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Além de monumentos tumulares
de grande valor artístico, os cemitérios nos trazem
uma complexa e abstrata simbologia através das formas
geométricas, símbolos, objetos etc. A combinação destes
elementos nas lápides, esculturas e mausoléus, cria
mensagens que fazem alusão a conceitos religiosos da
época, fornece informações sobre o falecido, sua origem
familiar, nível social etc. Portanto, funcionam também
como uma rica fonte de pesquisa sociológica e
cultural.
De acordo com as palavras de um dos fundadores
da Psicologia de Massa, Gustave Le Bon, temos explicação
exata do significado das obras de arte nos túmulos:
“Não são os fatos em si que ferem a
imaginação coletiva, mas sim o modo pelo qual se lhes
apresentam. Os monumentos e as comemorações são, sem
dúvida, os meios mais proveitosos, práticos e seguros,
para gravar no espírito do povo as proezas de um herói,
a grandeza de um nome ou a importância e o significado
de um acontecimento”.
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Além da aparência triste
e a sensação de paz presente aos cemitérios, existe
também obras arquitetônicas e esculturais de valor
histórico, e qualidade estética inegáveis. Nos
cemitérios mais antigos, é comum encontrarmos trabalhos
de artistas famosos abrigando os restos de anônimos
abastados. Em alguns casos, os mausoléus são verdadeiras
obras de arte alvos de visita e turismo. Os cemitérios
da Recoleta em Buenos Aires, e Père Lachaise de Paris são
necrópoles consideradas “pontos turísticos” por
sua beleza escultural, e também pela importância dos
que ali, descansam eternamente.
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Na segunda metade do século XIX, o imigrante
europeu no Brasil possuía a necessidade de eternizar-se
perante a sociedade e fazer do seu túmulo um símbolo
de prosperidade junto aos seus compatriotas. Assim, os jazigos
eram confeccionados por artistas trazidos da Europa
especialmente para adornar a morada definitiva do
colono. Em alguns cemitérios de São Paulo
(principalmente o do Brás), os conjuntos de capelas
refletiam a atmosfera doméstica do bairros italianos da
cidade. Na verdade, a intenção das famílias imigrantes
era fazer dos túmulos extensões do próprio lar. Os
aspectos monumentais, ou humildes dos mausoléus
representavam indiretamente a importância de determinadas
famílias perante à sociedade da época.
O desenvolvimento da arte tumular no Brasil está
intrinsecamente ligado à Europa. Porém, os cemitérios
brasileiros apenas refletem as tendências das principais
metrópoles européias, e se adaptam à disponibilidade
material e cultural.
A chamada belle époque estende-se
até 1890 na arte européia, onde os objetos requintados
que enalteciam os túmulos eram produzidos artesanalmente.
A partir deste momento, inicia-se a art noveau, período
que marcou a produção de caráter industrial
da estrutura arquitetônica e escultural dos jazigos. A utilização
dos recursos mecânicos, ferramentas e novas técnicas
da metalurgia e fundição propiciavam uma rentabilidade
muito maior ao antigo artesão, e neste momento,
operário. Os protótipos encarregavam-se de uniformizar
os detalhes artísticos das esculturas e pilares que
sustentavam os mausoléus, e agora apóiam também a
produção serial dos artigos fúnebres. Assim, o custo
foi reduzido e a sofisticação das obras de arte tumular
foi democratizada. Mesmo as famílias mais pobres
poderiam ter um jazigo ostentando uma certa nobreza.
Com o advento da produção mecânica,
estabeleceu-se nitidamente também novas características
que denunciavam os processos recém criados. A fundição
fornecia portões e grades, cercaduras, cruzes e vigas metálicas,
objetos pré-moldados etc. O escultor assume um papel de
“autor intelectual”, cabendo ao estatuário confeccionar
as obras com ajuda de ferramentas elétricas e mecanismo
que facilitavam a produção.
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Outro ponto de sensível mudança na
belle époque foi a inserção de alegorias simbolizando
prosperidade, prestígio e fortuna. A presença de
figuras pagãs, como Hermes (deus do comércio) ou
mitológicas também são constantes.
A arte cemiterial brasileira teve sua ignição
ao final do século XIX e início do XX. Nesse momento,
foi reunida a disposição de famílias com
recursos financeiros e a intenção de construir túmulos
suntuosos a partir do trabalho de artistas famosos da Europa,
principalmente os italianos. É nesse período que
Brecheret produz suas peças modernistas nos cemitérios
brasileiros. Emendabili, Oliani e Nicola Muniz denotam monumentalidade
e sensualismo em sua esculturas. A presença do nu é
considerada uma grande inovação. Todas as obras
apresentam um riqueza extrema de detalhes, e uma leveza só
atingida por artistas de expressão e talento elevados como
os escultores que aqui aportaram.
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