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Introdução
Gótico: apenas uma palavra
Ao longo dos anos, o termo gótico foi usado
como adjetivo e classificação de várias expressões
artísticas, estéticas e comportamentais. Mas, em sua
maioria, estas classificações não possuem nenhuma
relação com o significado primitivo da palavra.
O termo Gótico, que originalmente significa apenas relativo a Godos ou proveniente deles,
foi usado a partir do início da Renascença, para
designar de forma depreciativa a produção cultural
ocorrida entre os séculos XII e XV e posteriormente de
toda Idade Média, a qual foi associado o conceito de Idade
das Trevas, em oposição à nova Idade da Razão
ou da Luz: o Iluminismo (XVII e XVIII). Mas nos séculos
XVIII e XIX, por exemplo, gótico foi associado ao período
medieval e aplicado à Literatura. Além disso, o
termo Goticismo tem origem inglesa, Gothicism, e relaciona-se apenas à Literatura.
Em 1979 o termo gótico já foi utilizado
para designar o movimento sócio-cultural que se constituía
e se consolidaria poucos anos depois. Mas, a subcultura
gótica/darkwave não possui nenhuma relação com os Godos,
como a própria “arte gótica” (entre os
séculos XII e XV) não possui. Portanto, em uma de
suas primeiras aplicações, a palavra Gótico já foi usada com um
sentido que não corresponde ao original, e torna-se
nítida a diversidade de significados que esta palavra
traz em si.
A subcultura Gótica/Darkwave
A subcultura gótica (relacionada a Darkwave a
ponto de ser assim chamada por alguns) como conhecemos atualmente,
é um contexto artístico e comportamental que inclui
literatura, música, cinema, artes plásticas e vestuário
(entre outros), de forma que um elemento enriqueça o outro
e multiplique-se.
Pode-se dizer que sua origem ocorreu nos primeiros
anos da década de 1980, mas suas influências iniciam-se
no Romantismo do século XIX e passam pelo Modernismo, com
o Impressionismo, Expressionismo e Surrealismo e
Cabaret Culture, do século seguinte. Porém, a Geração
Beatnick, inspirada na boêmia moderna, filosófica
e artística francesa a partir de 1950 e posteriormente
pelos escritores Beats dos Estados Unidos, é a influência
mais recente e significativa da subcultura
gótica/darkwave.
No final da década de 60, os beatnicks se
diluíram e formaram ramificações como o movimento
Punk e Glam da década de 70. A música de artistas como
David Bowie e Velvet Underground, referências do Glam e
do Punk, trouxeram vários elementos da cultura beatnick,
como a prosa e a poesia. Dessa forma, o Glam e o Punk foram
influenciados pela Cultura Beatnick, mas também foram
determinantes nas características da subcultura gótica.
Mas todas essas tendências que influenciaram
e compuseram a subcultura gótica, desde o Romantismo até
as mais recentes, são apropriações e releituras
através de abordagens distintas, muitas vezes, de forma
alegórica e metafórica. As transições entre uma e
outra, ocorrem sem rompimentos bruscos, de forma que as
tendências posteriores resgatam elementos primitivos e
somam-se aos seguintes.
É importante salientar que os fatores que
definem uma corrente artística, filosófica ou apenas
comportamental, não são apenas os temas adotados, mas
principalmente a abordagem, ou a forma como os temas são
trabalhados e expostos.
A subcultura gótica/darkwave, não se
baseia apenas em alguns temas específicos, mas principalmente,
em uma abordagem própria. Para que possamos compreender
com mais clareza as características principais que compõem
a subcultura gótica, desde o uso do termo gótico
até as influências culturais e comportamentais mais
presentes, é necessário recapitular alguns pontos.
A Baixa Idade Média
O período da Idade Média, compreendido
entre os séculos V e XV, divide-se em dois sub-períodos:
Alta Idade Média (V à XI) e Baixa Idade Média
(XI até o século XV). É no início da Baixa Idade Média,
na França, que surge a Arte Cristã ou Opus Francigenarum
(obra francesa), que, aos poucos, substituiria o
estilo românico e futuramente, no período da
Renascença, passaria a ser conhecida, pejorativamente,
como Arte Gótica.
O Teocentrismo, baseado na concepção
de que Deus é o centro do universo, foi a corrente de pensamento
predominante no período medieval. Assim, a Igreja Católica,
responsável pela “educação espiritual”
dos homens, consolidou-se como a principal autoridade. O poder
econômico e político, e as influências sobre as
ciências e artes, subordinavam reinados ao comando do
clérigo. Era a Igreja que ditava os rumos que a ciência
deveria seguir, que dirigia os exércitos e proclamava as
leis. Além disso, a peste negra do século XIV, a
exploração do feudalismo e a imutável hierarquia social
contribuíram para a criação de uma situação calamitosa
no fim do século XV. No século seguinte haveria o
início de uma reação em todos os níveis, com o começo
da Idade Moderna e a transição sócio-econômica para
o Renascimento.
A Renascença e a Idade das Trevas
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Além de inovações nos aspectos
políticos e sociais e avanços técnicos e científicos,
foi na Renascença que outros continentes foram
descobertos através da navegação, que nasceu a imprensa
e inventou-se a bússola. Foi neste período que o
alemão Martin Luther deu início à Reforma Protestante;
que Michelangelo pintou a Capela Sistina; que Copérnico
escreveu De Revolutionibus Orbium, entre outros.
Os renascentistas acreditavam que a arte clássica
greco-romana, que admiravam e buscavam reviver, havia sido
denegrida na Idade Média pelos cristãos e, que a
Igreja, através do poder exercido pelos dogmas
religiosos, vetava os avanços tecnológicos e
condicionava a produção artística. Neste contexto
renascentista inclui-se também uma forte oposição ao
Clero, embutida no Antropocentrismo, corrente
filosófica na qual o homem é o centro do universo e,
naturalmente, oposta ao Teocentrismo medieval. Dessa
forma, mesmo sendo considerada uma etapa evolutiva do período
medieval, a Renascença desprezava a cultura da Idade Média.
Assim, grande parte da arte produzida na Idade
Média, como a arquitetura, escultura e pintura, foi
classificada como gótica, em alusão ao Godos, povo
germânico que invadiu o império romano a partir do
século III.
Esta classificação tinha a clara
intenção de denegrir a produção artística medieval, por
considerá-la bárbara, rude, grosseira, exagerada; ou seja, com os mesmos adjetivos que caracterizavam os Godos.
Assim, a civilização dos Godos, que
havia sido diluída no século VIII, portanto, 700 anos
antes da Renascença, tornou-se um “bode-expiatório” dos
renascentistas e a própria palavra Gótico teve seu
sentido ampliado, podendo ser compreendido como sinônimo
de bárbaro ou vulgar. Ainda, ao longo dos anos, a Idade Média iria tornar-se conhecida como Idade das Trevas, Noite da Humanidade, entre outras denominações.
Racionalismo, Iluminismo e Revoluções
Personagens como René Descartes, John Locke,
Pascal e Newton figuraram no século XVII. O Racionalismo,
baseado no conceito de que apenas a Razão (raciocínio
lógico) seria suficiente para o desenvolvimento da
humanidade, e o Humanismo, resgatando os filósofos da
Antiguidade, eram as correntes que influenciavam as
artes e as ciências. No panorama artístico, a
arquitetura, escultura e pintura, destacaram o
Classicismo e o Barroco.
Em meados do século XVII surge Iluminismo
– tendo seu apogeu no século XVIII – que de certo modo,
é herdeiro dos conceitos racionalistas e humanistas dos
séculos anteriores aliado a uma maior liberdade de expressão
individual. É o movimento iluminista que proclama o início
de uma “era de luz” para a humanidade e um dos
impulsionadores do capitalismo, além de tornar-se uma
das principais referências na arte.
Neste momento, surge na Inglaterra e alastra-se
pela Europa, um fenômeno sócio-político que
seria conhecido como a 1ª Revolução Industrial. Ainda,
desenvolve-se o Liberalismo político/ econômico e
consolida-se o capitalismo. Assim, o século XVIII torna-se
conhecido como o “Século das Luzes”. Porém, todas
essas mudanças bruscas trazem efeitos colaterais no
âmbito social.
Os avanços tecnológicos que proporcionaram
a Revolução Industrial deram início a uma
urbanização desenfreada e sem planejamentos com a
migração do homem do campo para as áreas centrais, que
resultaram em cidades sem infra-estrutura social e
administrativa. As jornadas de trabalho tornam-se muito extensas
e o valor da mão-de-obra, irrisório. Iniciam-se
reações violentas por parte dos trabalhadores explorados
e desempregados. Em algumas regiões, o número do
crescimento populacional quadruplica. Em Paris, 25% da população
é constituída por mendigos. Surgem as epidemias
de tifo, cólera e tuberculose. Por outro lado, nascem os
conceitos de capitalismo e a classe burguesa. No final deste século
ocorre a Revolução Francesa (1789), que marca o
início da era contemporânea. Baseadas em conceitos
do Iluminismo, no século XVIII se desenvolvem as idéias
Republicanas, postas em prática também na Independência
dos Estados Unidos, em 1777. No Brasil, estas idéias também
chegaram na mesma época, mas a nossa tentativa de
independência, a Inconfidência Mineira, é abortada em
1789.
O quadro de miséria e desigualdade criado
na Europa gerou uma insatisfação social e resultou
num processo de regressão que buscava os ideais medievais
ignorados pela Renascença. Inicialmente, essa tendência
desenvolvia-se apenas no sentimento e comportamento coletivo.
Porém, logo passou a designar um rumo artístico
e uma nova visão do mundo centrada no indivíduo. A
partir desta nova concepção iniciou-se o período do
Romantismo.
O Romantismo
O Romantismo é um período cultural
que se inicia na Europa no final do século XVIII, estendendo-se
e desenvolvendo-se por outras partes do globo até o final
do século XIX. Pode-se considerar que seu início
ocorreu na Itália, Inglaterra e Alemanha (na Alemanha conhecido
como Sturm und Drang – Tempestade e ímpeto).
Porém, foi na França que o romantismo intensificou-se
mais do que em qualquer outra nação. Foi através
dos artistas franceses que os ideais românticos se
solidificaram pela Europa e América. Sob o aspecto
ideológico, o Romantismo pode ser considerado uma
reação de fuga, ao iluminismo e racionalismo do período
anterior.
As principais características do Romantismo
são a valorização das emoções em temas que
recorrem à religião, nacionalismo, amor, individualismo
e subjetivismo, desenvolvidos a partir da
originalidade e liberdade criativa do artista. Na pintura, o francês
Delacroix e o espanhol Francisco Goya são os maiores
representantes. Na música, ocorre a potencialização da
expressão individual através de temas folclóricos e
nacionalistas. Neste período romântico da música,
destacam-se as últimas obras de Beethoven, além das
composições de Wagner, Chopin e Schumann, entre outros.
Mas foi através da Literatura que o Romantismo teve
suas expressões mais intensas e solidificou sua
identidade.
Romantismo Literário e Gothic Novel
A obra do escritor alemão Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther,
publicada em 1774 foi uma das precursoras do
romantismo. Este livro trazia intensidade emotiva sob a
liberdade criativa do autor, além de outros aspectos
fundamentais do romantismo.
Além disso, uma das principais características
do Romantismo Literário era a evocação à Idade
Média em seus temas. Neste caso, o autor almejava uma
idealização que não correspondia à sociedade ou ao
período em que vivia realmente. Esta característica é
conhecida como “Espírito de evasão”. Porém, esta
referência medieval do romantismo era sob uma
perspectiva idealizada. Isto é, buscava resgatar
valores como honra e valentia que, na visão do escritor,
eram comuns no período medieval, mas que não necessariamente
existiram.
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Na árvore genealógica
que ilustra este artigo, há alguns rótulos não
oficiais, usados apenas para organizar uma listagem on-line. O
foco desta árvore é a formação dos estilos
gothic/ darkwave/pós-punk e “parentes” mais próximos.
Obviamente, se o foco fosse a formação de outros
estilos, estes estariam no centro e mais detalhados.
Abaixo, comentamos, alguns mais longamente que outros, os seguintes rótulos/estilos:
01 – Glam Rock
02 – Krautrock
03 – ColdWave
04 – New Wave e French New Wave
Neue Deutsche Welle
05 – Pós-Punk
06 – Industrial
07 – E.B.M.
08 – Darkwave
09 – Gothic e Gothic-Rock
10 – New Romantic
11 – Death-Rock e Horror-Punk
12 – Ethereal e Ethno
13 – Medieval
14 – Trip-Hop e Trip-Goth
15 – Synth-Pop
16 – Futurepop
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Notas:
CBGC
Importante clube noturno de NY na década
de 70. Costuma-se chamar geração CBGC de 1975 as
bandas proto-punks (proto-pós-punks na opinião de
alguns) que tocavam nos palcos desta casa neste ano: Talking Heads,
Patty Smith Group, Television, Blondie, Richard Hell and
The Voidoids, Ramones e muitos outros que foram
precursores do que poucos anos depois seria chamado de
Punk, Pós-Punk e New-Wave.
Geração 68
1968 foi um ano que a juventude do mundo ocidental
saiu as ruas em busca de mudanças culturais. Isso refletiu
na criatividade musical deste período. De 1967 a 1970
se tornam conhecidos vários artistas que influenciaram
diretamente o que posteriormente foi chamado de Gótico,
Pós-Punk e Darkwave: Iggy Pop & The Stooges, The
Doors, Velvet Underground, Nico, John Cale, David Bowie
e Leonard Cohen, ente outros.
1 – Glam Rock
Tecnicamente, o Glam Rock existiu de 1970 a 1975.
Mas sua influência pode ser notada até hoje. O estilo
se caracteriza por uma temática Hedonista-Decadentista,
Androginia, um Rock básico ou recheado de experimentalismo,
muitas vezes considerado Proto-Punk, mas também havia
lugar para muito lirismo, folk, cabaret e poesia.
Exemplos: T-Rex, New York Dolls, Iggy Pop &
Stooges, David Bowie, Lou Reed, Roxy Music, Sweet,
Slade, Gary Gltter.
O Glam-Rock influenciou diretamente o Pós-Punk
e o Gótico, tanto na musicalidade como em sua temática
e abordagem, sendo que muitas das primeiras bandas góticas
pareciam e soavam muito como bandas Glam (Bauhaus e Specimen).
2 – Krautrock
Krautrock é o nome que se dá ao experimentalismo
no Rock alemão de aproximadamente 1969 a 1977. Este
experimentalismo mistura Rock, Psicodelia, música
experimental eletrônica, minima- lismo,
proto-industrial, e música erudita moderna
experimental, jazz e todo o mais que se possa imaginar. O movimento
influenciou tanto a música Industrial, como as tendências
eletrônicas, assim como as varias tendências pós-punk
e new wave, além do synth e EBM.
Exemplos: Throbbing Gristle (considerada a primeira
banda Industrial), Kraftwerk (que influen- ciou quase tudo
que se conhece em termos de música eletrônica), Can,
Neue, Tangerine Dream, Faust, etc.
3 – Coldwave
O termo “cold wave” foi criado para definir
uma linha musical eletrônica, levemente dançante e
minimalista que tinha teclados frios (ta aí o porquê
do nome), densos e batida arrastada/marcada. Podemos citar Gary
Numan como sendo o pai dessa corrente, seguido de John Foxx
(Ultravox).
A coldwave ganhou um aliado mais “rock” que vinha do norte da Inglaterra: Joy Division
que por sua vez inspirou dezenas de bandas entre elas o
Crispy Ambulance, Danse Society, The Wake (UK – não tem
relação com o selo americano Cleópatra), The Names
(Bélgica), Fra Lippo Lippi (Noruega – apenas em seu
primeiro álbum).
Já na França o termo coldwave também
serve para se referir a qualquer banda que faça parte de
sua cena obscura (Kas Product, Trisomie 21, OpeRa Multi Steel, Norma
Loy, Guerre Froide, Little Nemo, Baroque Bordello) seja ela
mais “death rock” ou mais etérea. Isso pode ser
comprovado em um recente livro que fala da cena européia
com o título de Generation Extríme – 1975-1982, du punk a la cold wave,
de Frederic Thebault. A cena francesa foi realmente uma
cena de dar gosto e tardiamente e postumamente seus talentos vêm
recebendo os créditos.
Tirando seu lado meio “progressivo”,
sem dúvida que o Krautrock influenciou o povo da coldwave,
assim como diversas tendências eletrônicas e minimalistas
surgidas na metade dos anos 70. Sem contar que foi fundamental
para algumas criações de Brian Eno; o mestre que
moldou o som de David Bowie em sua “fase alemã”.
(Por Heltir)
A trilogia formada pelos discos Low, Lodge e Heroes
reflete muito bem os sentimentos esquisitos da Berlim
daquela época. No final dos anos 70, suas ruas ainda
viviam atormentadas pelos estilhaços da Guerra Fria
(cujo fracasso de ambos os lados se refletia no
descrédito de resultados da Corrida Espacial e de
eternas ameaças nucleares) e da cortina de ferro
instalada pelos regimes comunistas na Europa Oriental.
Havia ainda o muro da vergonha, que dividia a cidade
em duas e isolava a parte oeste de toda a Alemanha
Oriental ao redor. A falta de perspectivas e o
isolamento “entre quatro paredes” fizeram a dupla
Bowie/Eno criar – sobretudo em Low – texturas sonoras
que eram descritas como “um deserto futurista congelado
por sintetizadores”. Nascia ali o embrião do gênero
que viria a ser conhecido por coldwave ou a facção mais
fria, robótica e apocalíptica do pós-punk. Não por
acaso, o Joy Division tiraria seu primeiro batismo
(Warsaw) de faixa de abertura do lado B de Low.
(Por Abonico R. Smith)
Além de Gary Numan e Ultravoxx, também Cabaret Voltaire, a “fase Faith” do The Cure,
Kraftwerk, Cocteau Twins e Dead Can Dance, e algumas fases
de Siouxsie and The Banshees também são citados como
Coldwave. Mais tarde o termo Darkwave é aplicado à
algumas tendências influenciadas por esta estética.
(Por Kipper)
4 – New-Wave e French-New Wave
Um dos rótulos mais incompreendidos que
existe é New-Wave, também porque o rótulo acaba se
tornando abrangente demais. A grosso modo, quando o rótulo
Punk se esgotou em 1977, as coisas mais “normais” eram
chamadas de New-Wave, e as mais “alternativas ou experimentais”
de Pós-Punk. Pra complicar, algumas bandas dos dois grupos
eram encaixadas também como Góticas.
A versão mais reproduzida sobre a origem do
nome é que ele vem de French-New-Wave, um movimento de renovação
do Cinema Francês da década de 60, representados por
cineastas como Jean Luck Godard, François Truffaut, etc.
Esse movimento é chamado em francês de Nouvelle Vague
(nova onda). Os filmes costumam ser sombrios, existencialistas,
mas irônicos, usando de muito simbolismo e abordando a alienação
social e psicológica do indivíduo.
Na música pop, no final anos 70 para o começo
dos 80, o New-Wave começou a ser usado para designar as bandas
que haviam começado em 1974/75 como Punk, mas depois
seguiram um caminho experimental variado e temáticas e
abordagens às vezes semelhantes ao movimento de cinema
citado acima. Exemplos: Talking Heads, Patty Smith,
Television e outros da cena de Nova York. Na Inglaterra,
bandas como The Cure e Siouxsie and The Banshees eram
consideradas tanto New-Wave como Pós-Punk e Góticas. Ao
mesmo tempo em que bandas como Soft-Cell e Devo e outras
ligadas ao Synth-pop e minimalismo musical.
O movimento New-Wave, depois permaneceu, porém
de forma alguma se resumia à “um povo com roupa colorida
que dançava para os sintetizadores”. Temos ainda a
versão francesa do Movimento musical New-Wave, a French-New-Wave
(algumas bandas sendo chamadas também de Coldwave).
Parte destas bandas influenciou o que depois
chamaríamos, no começo dos anos 90, de Darkwave. Então,
às vezes, o rótulo Darkwave é usado retroativamente
para classificar estas bandas. Exemplos: Kas Product,
Opera Multi Steel, Trisomie 21, Collection D’Arnell
Andrea.
Evidentemente estas bandas acima tiveram influências
como Cocteau Twins e outros experimentos que também
influenciaram toda a música dos anos 80. Pelo caminho
da música erudita experimental, entram tanto a
eletrônica como sonoridades folk e tribais.
Neue Deutsche Welle (NDW)
Na Alemanha temos a Neue Deutsch Welle (NDW – Nova
onda Alemã – German New-Wave), que possuia um lado mais
experimental, e outro mais comercial. Do lado mais
experimental é comum listar bandas que encontramos
também catalogadas como Industrial ou Góticas: Malaria,
X-Mal Deutschland, Einsturzende Neubauten, etc. Do
lado mais comercial: Falco, Trio, Spyder Murphy Gang,
Nena, etc.
Definitivamente, uma música de temáticas
“Noir”, mas com abordagem pós-punk usada com
elementos eletrônicos.
Obs: Assim, considerando todas
as variantes do uso desses rótulos, fica mais fácil
entender a mistura desde os anos 80 entre o público e som
Gótico, Darkwave e New-Wave nas casas noturnas paulistanas
chamadas de “góticas”.
5 – Pós-Punk e No-Wave
Não vamos entrar em detalhes da história
do Positive Punk aqui. Do ponto de vista do Gótico, basta
saber que de 1979 a 1983, entre as muitas bandas consideradas
Pós-Punk e Positive-Punk, algumas eram ao mesmo tempo
chamadas de Góticas. Das bandas Pós-Punk, algumas eram
chamadas de Coldwave em alguns países. Mas o termo
Coldwave é bem menos difundido que os demais.
Na cena que seria chamada de Gótica, os
rótulos competiram, até que de 1983 para 1984 o termo
Gótico se fixa totalmente, ao mesmo tempo que as
características e conceitos do que seria chamado de Gótico,
a partir deste ponto, também se estabilizam e se fixam.
O Pós-Punk definia um leque grande de estilos,
com base comum nos princípios do minimalismo, experimentalismo
e outros comuns ao punk, o glam-rock, new-wave, NDW,
Industrial, synth e o punk-glam. A abordagem era
diferente do punk: mais introspectiva, onírica,
sensível e irônica mas sem perder a ironia e o
humor-negro. A temáticas eram variadas, usando de todo
repertório Pop como metáfora para comentar questões
cotidianas.
Exemplos de Bandas consideradas tanto Góticas
como Pós-Punk: Bauhaus, Alien Sex Fiend, The Damned, Sex
Gang Children, Malaria, The Cure, X-Mal Deutschland, Siouxsie
and The Banshees, Birthday Party, Nick Cave, Specimen,
Joy Division, etc.
Resumindo, podemos dizer que a partir de 1983 o
termo Gothic se fixa, sendo aplicado também retroativamente.
Outros rótulos se fixam e são aplicados retroativamente
também. No-Wave é mais ou menos o Pós-Punk
Norte Americano de NYC. Bandas: DNA, Mars, Lydia Lunch.
6 – Industrial
O termo Industrial teria sido sugerido pelo músico
e performer Monte Cazazza: “música industrial para
pessoas industriais”. A idéia era uma “não-música”
que satirizasse o mundo industrializado. Influenciados por
experiências feitas na música erudita experimental ao
longo do século XX, um dos resultados foi o Industrial
que surgiu em meados dos anos 70, sendo a banda
Throbbing Gristle considerada uma de suas criadoras (ao
lado de Monte Cazazza). Industrial constituía em
buscar fazer algo musical sem melodia ou mesmo sem instrumentos,
usando de objetos cotidianos e/ou industrializados. As
sonoridades podiam tanto ser extremamente delicadas
como totalmente perturbadoras e agressivas.
Em 1980, surge um dos ícones do industrial,
a banda alemã Einsturzende Neubauten. Com o tempo, bandas
vão mesclando o estilo com outros, e surge o Industrial-Rock,
como o caso da banda Nine Inch Nails, que ainda guarda
bastante ligação com o estilo original.
Mais recentemente, ao longo dos anos 90, se popularizou
um estilo chamado Industrial, com muitos elementos de
Metal, mas que não tem mais quase nada da
experimentação do Industrial original. Mas ainda
podemos encontrar bandas que fazem hoje um som
Industrial mais tradicional.
Outras bandas básicas do estilo original,
também importantes para EBM e Synth: Cabaret Voltaire e Clock
DVA. Originalmente Influenciados pela música experimental
de eruditos como Stockenhausen, hoje é difícil imaginar,
mas as raízes do experimentalismo do Industrial influenciaram
também as inovações do Rap e do Hip-Hop original.
Quando em 1982 África Banbaata “sampleia” o Kraftwerk
e inventa o Electro, (em Planet Rock) é apenas o círculo da história que se fecha.
7 – E.B.M. (Eletronic Body Music)
A EBM é outro dos estilos surgidos do experimentalismo
eletrônico dos anos 70, guardando sempre grande
intercâmbio com o Industrial e gerando subgêneros. O
maior ícone é a banda Front 242. Outras são Nitzer Ebb,
Klinik, Neon Judgement, Skynny Puppy, Front Line
Assembly, Leather Strip, Wumpscut, Hocico, etc. Muitas
bandas são classificadas também como Industrial.
(Por Kipper)
Atualmente, costuma-se chamar a EBM “antiga”
por “Old-School” EBM pela diferença que há entre
sons mais antigos e novos. Difícil dizer com precisão
quando termina a EBM old-school cronologicamente; mas a grosso modo,
isto compreende um período que começa em 1982 (embora
algumas bandas sejam anteriores a essa data), com o lançamento
de um dos primeiros cd’s da banda Front 242 (Geography).
Sonoricamente, a E.B.M antiga é bem mais semelhante à
música industrial da época do que a atual (com o tempo
o som foi evoluindo sofrendo influências de vários
outros gêneros).
Bandas conhecidas de EBM antigo, entre outras:
Front 242, Die Krupps, Nitzer Ebb, A split a second, The Neon
Judgement, entre outras. EBM “Old-School” é mais
usado como um termo musical, pois ainda existem bandas que
fazem tal som, conservando aspectos mais, digamos
assim, “puros”, dos primeiros dias da Eletronic Body
Music. No começo dos anos 90, algumas bandas de EBM
começaram a “puxar” elementos do synthpop, fazendo um
som mais pop, mais fácil de se ouvir e de se vender
também: o Futurepop.
Existe o que algumas pessoas chamam de Harsh EBM
(ou Terror EBM, Agrotech). Isso denomina uma variante da EBM
que surge no começo dos anos 90, mas não se populariza
até a metade dele. Harsh EBM, como o nome já diz,
é a variante pesada da EBM nos dias atuais, batidas
distorcidas, sintetizadores ácidos e vocais as fora de
melodia, agressivos e também, claro, distorcidos; com
letras pesadas e não muito otimistas que fazem uma
melodia (ou não) bem caótica. As principais bandas
desse gênero são: Suicide Commando, Unter Null,
Grendel, Waldgeist, Tactical Sekt.
(Por Daniel Calvo)
8 – Darkwave
Este é um dos rótulos mais controversos.
Existem pelo menos três significados mais difundidos para
Darkwave:
a) No começo dos anos 90 a gravadora
norte-americana Projekt começou a usar o termo DarkWave
para definir seu catálogo. Como esse catálogo incluía
muitas bandas similares à Cocteau Twins, Dead Can
Dance, Industrial clássico e sonoridades Ethereal,
estes estilos passaram a ser chamados também de
Darkwave. Por extensão, passou-se a chamar de Darkwave
retroativamente a bandas dos anos 80 que tinham estilo
semelhante e que na verdade influenciaram a Darkwave
dos anos 90. Exemplos são bandas francesas como Opera
Multi Steel, Collection D’arnel Andrea e as duas bandas
Inglesas já citadas. Bandas que começaram fazendo uma
New-Wave mais alternativa passaram a ser incluídas
neste rótulo. Muitas bandas do estilo Ethereal também
entram nessa classificação: Black Tape for a Blue Girl,
Love Spirals Downsward, Lycia, Bel Am. etc, reclassificadas
retroativamente: Cocteau Twins, Dead Can Dance, Dali’s Car,
Opera Multi Steel, etc.
b) Em razão de bandas como Cocteau Twins
terem sido lançadas pelo mesmo selo que Bauhaus, (4ad)
e a pesquisa sonora e influências guardarem ligações
com o que se fazia no Pós-Punk/Gótico (além de ter
origens comuns), também acabou-se por usar o termo
Darkwave para todo o Gótico que não fosse muito “Rock”.
Algo como uma “New-Wave mais obscura”. (Sempre
lembrando que New-Wave não se resume a “surf-rock
colorido”).
Assim, em alguns casos, Darkwave é usada
quase como sinônimo de Gothic. Além disso, bandas
como The Cure (principalmente de 81 a 83.) e Cocteau Twins, só
para dar dois exemplos, na mesma época trabalhavam com
sonoridades muito próximas e “ethéreis”
(góticas na opinião de alguns).
c) Darkwave foi também o rótulo utilizado
para bandas eletrônicas alemãs do começo da
década de 90, mesmo que depois elas tenham enveredado por
estilos que hoje recebem outras classificações.
Exemplos: Project Pitchfork e Das Ich, no início das suas
carreiras.
Esses três sentidos às vezes se complementam,
às vezes se confundem. No sentido C, mas também
nos A e B, o estilo acentua suas bases eletrônicas: Exemplos:
Wolfsheim, Poesie Noire, Diorama, Diary of Dreams, etc.
9 – Gothic e Gothic-Rock
O Goth/Gothic se tornou muito mais que um gênero musical: uma subcultura
e um estilo de vida que acabam caracterizando até outros
gêneros musicais (desde que estes não sejam esteticamente
– musical e liricamente – incoerentes com o que significa,
no nosso contexto, Gótico).
Os primeiros usos “oficiais” do adjetivo
Gothic foram ao final da década de 70 para bandas como Bauhaus,
Joy Division e Siouxsie and The Banshees, que eram também
chamadas de pós-punk. Mas as influências destas bandas
não se resumiam ao punk. Aqui, bandas que depois seriam chamadas
de Death-Rock ainda eram chamadas de Gothic-Rock ou
Pós-Punk. Na verdade, a fronteira entre o Gothic-Rock e o
Death-Rock é nebulosa, acontecendo uma
“retro-influência”. Exemplos: Alien Sex Fiend, The Sisters of Mercy,
Love Like Blood, Siouxsie and The Banshees, Killing
Joke, Inkubus Sukubus, Nosferatu, London After Midnight,
The Ghost of Lemora, Paralysed Age, Audra, etc.
O Gótico continuou seu desenvolvimento ao
longo dos anos 90 e no século 21, desenvolvendo cenas em
todas as latitudes e longitudes. Bandas de estilos musicais não
tipicamente rock também são consideradas Goth. Por
isso elas podem também ser encontradas nos demais itens
deste glossário.
10 – New Romantic
No começo dos anos 80, o estilo New-Romantic
conviveu e influenciou muitas bandas chamadas Góticas,
sendo que características do New-Romantic foram incorporadas
a estética gótica.
O New-Romantic se caracterizava por uma espécie
de “ultra-individualismo dandi”, expressado por roupas
super “chiques” (mas geralmente modernas) e por uma
música hedonista e dançante. Os ícones eram
David Bowie e Duran Duran. (Lembram do visual e do som destes
dois no começo dos 80’s? Esta era a estética e
música New Romantic).
11 – Death-Rock e Horror-Punk
O termo Death-Rock surge nos Estados Unidos
aproximadamente em 1981 com a banda Christian Death.
Depois, quando o termo Goth se firma na Inglaterra, (de
1982 a 1983, aproximadamente) Death-Rock passa a ser
usado também lá para as bandas “Pós-punk/Góticas” mais
“Punk-Góticas”. Enfim, os góticos tendem a considerar a
maioria delas, góticas também.
O Death-Rock pode ser visto tanto como uma cena
à parte ou como uma parte do Gótico. Historicamente,
seria o lado, do Gótico mais ligado ao Punk-Rock, e mais
escrachado e irônico, decadente, circense e ligado a um
clima de cabaré modernista (não que estas referências
não estejam no Gótico em geral, mas no Death-Rock
elas são muitas vezes exageradas e levadas ao extremo).
Mas sem perder um certo tom existencial ou niilista.
Exemplos: Alien Sex Fiend, Sex Gang Children, Cristian
Death, Cinema Strange, The Last Days of Jesus, Zombina
and The Skeletones, Tragic Black, etc. Dentro do
Death-Rock existem subdivisões e outras variantes que
se aproximam mais do Gótico, se tornando difícil
distinguir, ou, por outro lado, se afastam do Gótico,
chegando até a um punk-hardcore de temática de Horror.
Entre elas está o “Horror-Punk”, que
seria o Death-Rock que se aproxima de uma sonoridade e atitude
mais Hard-Core/Punk, e com temáticas que vão ainda
mais radicalmente no “Horror-Cinema B”. Exemplo: Misfits.
12 – Ethereal e Ethno
Nas subdivisões da Darkwave, temos o Ethereal,
conhecido por suas melodias lentas e delicadas, e seu clima
onírico. Pode ter base eletrônica ou acústica, se
confundindo com o Ethno, se explorar ritmos ou melodias
“Ethnicas”, ou seja, músicas tradicionais de outras
culturas (não-européias) ou folclóricas (européias).
Mas é importante lembrar que o Ethereal
não é simplesmente música folclórica. De qualquer
forma, ambos os estilos são dançantes. Influenciado
pelas pesquisas de música erudita experimental do
século XX, e seus resultados, como o Synth-Pop, Trip-Hop,
Darkwave etc, Daí sua mistura de experimentalismo eletrônico
e elementos Folk ou tribais. Exemplos: Cocteau Twins, Dead Can
Dance, Lycia, Theodor Bastard, Bel Am, Collection
D’Arnell Andrea, QNTAL, Love Spirals Downward, Kirlian
Kamera, Attrition, This Ascension, Black Tape for a
Blue Girl, etc.
Muitas bandas deste estilo são classificadas
também, em outros contextos, como Medieval, World Music,
New Age ou Dark-Ambient.
13 – Medieval
Algumas bandas Darkwave aprofundaram sua pesquisa
de ritmos tribais e folclóricos do mundo inteiro, ou de
música européia pré-clássica, (várias
fases da música medieval) sem, todavia, deixar de lado a
abordagem moderna e as bases ou experimentalismos eletrônicos.
Exemplos: QNTAL, Mediaeval Baebes, Estampie, Corvus
Corax, Ataraxia, Arcana, Helium Vola, etc. Algumas bandas
buscam fazer um som medieval “autêntico”, enquanto
outras buscam um som “para festas”, dançante. Algumas
são classificadas também como Darkwave ou Ethereal.
14 – Trip-Hop e Trip-Goth
A data “oficial” de batismo do Trip-Hop
é 1995, quando jornalistas precisavam de um novo termo
para nomear toda uma corrente de música eletrônica/pop
experimental, especialmente a cena local das cidades Bristol e
Portishead na Inglaterra.
1994 é o ano do emblemático álbum
Dummy do Portishead, que traz todos os elementos básicos
do estilo de forma bastante clara. Mas mesmo sem nome, o estilo
está entre nós na virada para os anos 90. Por que
o nome “Trip-Hop”?
A parte Hop vem de Hip-Hop, pois a maioria dos
ritmos experimentais deste gênero tinha como base, alterações
ou quebras no hip-hop (claro que há outras influências).
A parte Trip vem do termo viajar (trip, em inglês)
devido a forte influência de sons “viajantes” do Jazz
experimental, Jazz-swing e Darkwave (às vezes,
Ethereal). Outra influência é a de trilhas sonoras de
filmes, especialmente os de base jazzística antigas.
(Veja a descrição completa no Texto Complementar: Trip-Hop)
15 – Synth-Pop
No final dos anos 60, as primeiras músicas
feitas com sintetizadores começaram a ser lançadas.
As experiências em música eletrônica, que estavam
apenas na música erudita, começam a aparecer na música
Pop. Por isso muitos dos primeiros a produzir música
sintética eram indivíduos com formação erudita.
O experimentalismo eletrônico se espalha
e se mistura com o Jazz e o Rock, como no caso do Krautrock (ver
item 1). O uso de elementos eletrônicos minimalistas também
foi elemento de constituição da Cold Wave (parte
mais “robótica” do pós-punk), da New Wave e
praticamente todos os estilos eletrônicos posteriores,
como a EBM, DarkEletro, Eletro-Goth, Futurepop e outros.
(Por Kipper)
Uma das principais bandas que fizeram influência
no Synth-pop antigo, foi Kraftwerk (1970), quando tocavam
uma música algumas vezes desarmoniosa, porem
inovativa, baseada em sintetizadores.
No fim dos 70’s muitos artistas relacionados com
esses meios apareceram, principalmente na Inglaterra, que
usavam o sintetizador como seu instrumento principal.
Entre eles: Ultravox, OMD, Gary Numan, e Human League.
(Por Daniel Calvo)
16 – Futurepop
Futurepop é um gênero recente (a partir
de 1990). É uma subdivisão da EBM influenciada principalmente
pelo Synth-pop e outros gêneros (techno, electro-goth,
darkwave). Bandas de Futurepop são bandas de EBM que em
tempos recentes começaram a fazer um som mais “pop”.
Comumente vê-se pessoas chamando futurepop de EBM, o
que, realmente, não deixa de ser.
Em relação aos sintetizadores, existe
uma notável influência do trance e do techno, nos
vocais também (vocal quase sempre limpo, destacado e alto
em relação à música em geral). O Termo futurepop foi
usado pela primeira vez por Ronan Harris (VNV Nation) e
Stephan Groth (Apoptygma Berzerk) tentando descrever melhor
o som que faziam, que não se encaixava “perfeitamente”
nas categorias já existentes.
Depois do gênero ter sido citado pela primeira
vez, várias bandas começaram a compor sobre o gênero
Futurepop. Algumas bandas relativamente conhecidas de Futurepop
são: Icon of Coil, Apoptygma Berzerk, Covenant
(recentemente), VNV Nation, Fortification 55,
Assemblage 23, Funker Vogt e Melotron (algumas
músicas). Algumas bandas de EBM pesado também possuem
uma certa pitada de trance em suas músicas (Grendel,
Suicide Commando no último cd).
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Trechos do Livro “GOTH – Identity, Style and Subculture” de Paul Hodkinson
No seu livro Goth: identity, style and Subculture,
Paul Hodkinson organiza três grandes grupos de
caracterísricas e símbolos da Subcultura Gótica na
Inglaterra. Sua pesquisa compara a cena gótica Britânica
do final dos anos 90, com a tradição desta Subcultura
desde o início dos anos 80. Confira uma pequena
introdução do livro e alguns trechos importantes
traduzidos.
Gótico como Estilo Subcultural
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Existem duas datas mágicas
para o que será relatado a seguir: 1977 e 1982. Estes dois
anos marcam duas fases do punk, primordiais para o
entendimento da música das décadas posteriores. O ano
de 1977 marca o surgimento, para o mundo, do punk rock,
independente de ele já estar sendo praticado de forma
mais branda nos EUA, antes disso. Já 1982 marca seu
“multifacetamento”: new wave, no wave, darkwave,
góticos, hardcore, skins, ska, two-tones, world music
etc. Nesse meio tempo é que o pós-punk existiu de forma
mais intensa. Isso porque as delimitações não estavam
definidas, tudo fazia parte de um único estilo, como se
fosse o efervescente centro de um vulcão, prestes a
expelir sua lava, lançada ao mundo nos anos seguintes
em vários segmentos a escorrer pela montanha.
Nesse caldeirão, chamado
pós-punk, cabia o experimento do Gang of Four, com suas
batidas afro-punk-funks, lançando o fundamental Entertainment!
em 1979; mas a banda somente ganharia as paradas do mundo em
1982, com o single I Love a Man In a Uniform, já totalmente pop. Cabia também os experimentos similares do Talking Heads,
banda pertencente à cena proto-punk de Nova Iorque,
mas que deu as bases da world music ao mundo, com seu My Life In The Bush of Ghosts, de 1982. Ou ainda a opção pelo eletrônico, em bandas como Ultravox, que começou punk com Ultravox!
e terminou new romantic nos anos 80. Ou os caminhos
tenebrosos (no bom sentido) pelos quais trilharam Damned e Siouxsie & The Banshees,
por exemplo, que acabaram no gótico oitentista. Ou até
mesmo aqueles que nunca abandonaram o pós-punk, apenas
transmutando-o de acordo com os anos, como The Fall ou Nick Cave (seja no Boys Next Door, no Birthday Party ou com os Bad Seeds).
Sem contar aqueles que ainda não sabiam que caminhos
trilhar, mas sabiam que algo tinha de ser feito, como Mick Hucknall (Simply Red) e Roland Gift (Fine Young Cannibals), que foram vocalistas de (inexpressivas) bandas punks. O U2 era punk. Tudo era punk, senão por ideal, por moda mesmo.
Ainda que dando essa impressão, o punk rock
não veio acabar com nada: veio apenas acertar a rota da
música jovem ocidental. Por trás daquela algazarra
sonora, havia todo um “modus operandi” que norteou a
produção cultural posterior, indo desde a democratização
da música até a literatura (vide o impulso dado aos
fanzines). Com isso, não há dúvida alguma, resgatou a
fórmula da música pop (quase perdida em meios às
plumas, paetês, espetáculos e exageros dos anos 70):
mensagem direta e imediata, em democráticos três ou
quatro minutos, tempo esse suficiente para que todos
pudessem dar seu recado.
Esse punk da primeira hora era feito por moleques
que mal sabiam tocar seus instrumentos, ou desconheciam seus
limites (tanto os deles próprios quanto os dos ditos
instrumentos). Então, para que chamassem a atenção e
fossem ouvidos, vindos dos subúrbios e sem voz na
mídia, levaram a extremos aquela fórmula pop: as
músicas, barulhentas, mal passavam dos dois minutos; os
vocais eram vociferados, gritados mesmo; o baixo
estalado; a bateria veloz e furiosa; a guitarra
distorcida; e assim por diante. Teclado, num primeiro
momento, nem pensar, pois era o símbolo máximo dos
representantes do mainstream da época, ou seja,
do rock progressivo – que, contraditoriamente, não deixava
de ser popular, pois era moda. Essa visão distorcida desse
potencial “inimigo” (o teclado) só foi revista
com a evolução do punk para o pós-punk.
Costuma-se dar o nome de pós-punk àquela
estética sonora surgida imediatamente após o punk. É
como se fosse um primeiro estágio de evolução da
crueza punk. E dessa evolução continuada surgem
praticamente todos os estilos e diretrizes do universo musical
dos anos 80, indo desde os estilosos góticos até
as dançantes raves e seus ritmos eletrônicos. Sem
contar que estilos já existentes e consagrados, como o
ska, o reggae e até o heavy metal, tiveram de refazer seu
caminho. O próprio heavy metal só ganhou a cara que
conhecemos hoje quando assimilou a fúria punk (via
thrash, black e outros estilos mais radicais).
Dessa forma, vamos encontrar bandas como o The Police ou o The Jam, entre outros, que eram formadas por músicos bastante técnicos. O primeiro do Police (Outland’s D’Amour),
lançado em 1977, tinha o frescor punk, mas o segundo,
do ano seguinte, já trazia música dançante e elaborada,
a partir do título do álbum – Regatta de Blanc, ou seja, “Reggae de Branco”. Pra se ter uma idéia, Andy Summers, guitarrista do Police, já havia tocado com Eric Burdon (Animals) e Robert Fripp (King Crimson). Por seu turno, para o Jam
existir como punk, justificava-se que o estilo tinha
influências mod sessentistas, o que nem sempre era verdade.
Basta lembrar que um dos maiores hits do Generation X tratava com desdém justamente essa geração mod: “Try
to forget your generation (…) your generation don’t
mean a thing to me (…) there ain’t no time for substitutes
/ there ain’t no time for idle threats”, eles cantam em Your Generation, numa alusão direta à My Generation e Substitute, hinos do The Who. O Exploited
foi mais direto e visceral, ao cantar “Fuck a Mod”,
alguns anos mais tarde, liderando o segundo levante
punk. Mas o Jam era bem maior que o punk, tendo pulado
logo esse estágio para um estágio pós-punk elaborado e
elegante, que desembocava em canções de rara beleza e
sensibilidade, como That’s Entertainment.
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Aqui em terras tupiniquins, houve uma associação com esse “posterior”, sendo conhecido como pós-punk
(ganhando o acento gramatical da língua portuguesa). Não
sem antes haver uma pequena polêmica: por conta das características
próprias do estilo pós-punk, não podendo
chamá-lo de punk, nem muito menos de gótico, optou-se
por nomeá-lo com uma das características desse som: dark.
Realmente, a predominância da obscuridade (tanto
instrumental quanto temática) faz com que essa classificação
não seja lá tão falsa, mas é pouco abrangente e
limitada, por conta da riqueza do leque pós-punk. Dizer
que Smiths ou Echo and The Bunnymen, ou ainda as brasileiras Muzak e Kafka,
por exemplo, eram darks, não é de todo falso, mas
passa longe de definir com propriedade o som que essas
bandas apresentavam. Mais recentemente, optou-se por
chamá-las de darkwave ou cold wave, que não passam de variações do (“apenas”) dark.
Mesmo advindo do punk, o pós-punk difere
desse em vários aspectos, a começar pela temática
lírica. Essa passa a ser reflexiva, ao invés de
acusativa. Enquanto o punk grita contra o sistema e as mazelas
de nossa sociedade, o pós-punk se retrai em seu mundo,
não raro procurando em si mesmo os problemas por que passa
(In my life / why do I give valuable time / to people who don’t care if I / live or die – Heaven Knows I’m Miserable Now, The Smiths).
No começo de 1978, após apontar suas armas para a
sociedade britânica, Johnny Rotten assume seu nome
verdadeiro, John Lydon e funda o Public Image Ltd., captando o momento e questionando: You
never listen to a word that I said / you only seen me
for the clothes that I wear / or did the interest go so much deeper
/ it must have been the colour of my hair, na música que leva o nome da banda.
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Mas a explosão do punk não surtiu o
efeito desejado. É lógico que o saldo foi positivo,
pois praticamente tudo o que foi feito em matéria de música
posteriormente tinha um pé no punk. Mas percebeu-se que,
exatamente no campo musical, acabou havendo apenas uma troca de
ícones, nada mais. Além do que, e mais grave, os
alvos do tiroteio punk (os grandes nomes da música mundial)
saíram intactos. Entre si (punks) começaram as primeiras
brigas, ora por caminhos musicais diversos que
começaram a ser trilhados (inaugurando o termo “traidor
do movimento”), ora por idéias e ideais confusos, na
maioria das vezes políticos.
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Esse momento de indefinições, mais a
visão de um mundo envolto em guerras e com medo de uma
hecatombe nuclear, proporcionaram que a temática lírica
do pós-punk juntasse o no future punk aos ares de apocalipse
(The Day After, Síndrome da China, o acidente em Chernobyl
etc.) que se respirava com a proximidade do fim-de-século
(temor natural do ser humano em toda virada de século).
Só pra constar, a guerra (e seus efeitos) é recorrente
na temática lírica punk, sendo abordada de diversas
formas: irônicamente (Holiday in Cambodja – Dead Kennedys), sarcasti-camente (Let’s Start a War, Said Maggie One Day – Exploited), de forma séria (Massacred Millions – The Varukers), raivosa ( e mais um monte – Discharge) etc.
Esse aspecto sombrio, por vezes sorumbático
e melancólico (ou seja, uma atmosfera totalmente dark)
foi reforçado pela estrutura instrumental das músicas,
principalmente pelo novo papel que coube ao baixo. Deixando de
ser um instrumento de cordas que “dá notas” ao
bumbo da bateria, ele se desvencilha dela e passa a ser, na
maioria das vezes, o fio condutor da música. O baixista
Jah Wobble, um ex-taxista jamaicano amigo de Lydon,
que formou o PIL junto com o ex-Pistol, foi um dos responsáveis
por isso. Seu instrumento soa destacado em relação aos
outros, no primeiro disco da banda (Public Image), lançado no natal de 1978. Quase ao mesmo tempo, o Warsaw transforma-se em Joy Division, pois mudara de baterista e deixara os anos de punk para trás. Lança Unknown Pleasures
(1979), o primeiro disco oficial. Nele, Peter Hook divide de igual
para igual as cordas de seu baixo com as da guitarra de
Bernard Summer. Tente imaginar, por exemplo, Day of the Lords
sem aquela linha de baixo. Com freqüências graves,
ajudava a dar o ar soturno que as letras pediam. Isso deu liberdade
natural à bateria, que acabava optando por levadas também
criativas, quase sempre (por motivos óbvios) caindo para
o lado tribal. Double Dare (Bauhaus)
é um bom exemplo disso; ela seria outra música sem
aquela bateria. A batida se repete num riff hipnótico,
ajudado pelo baixo distorcido, tocado em Mi e Fá (ou seja,
apenas um vai e vem de tom e semitom), com uma
guitarra que emite sons aleatórios e às vezes
desconexos.
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Os vocais ganham nova dimensão: antes gritados,
desesperados, agora são mais graves, empostados, melodiosos,
podendo até ser sussurrados. Nada impedindo, no entanto,
que permanecessem no formato punk. O elo entre um e
outro foi mantido, na maioria dos casos. A começar pelo
próprio John Lydon: não há grande diferença entre seus vocais no Sex Pistols e no PIL.
Interessante notar que nos Sex Pistols (ou seja, punk,
onde deveria ser mais escrachado) Lydon trabalhava com
mais melodias que no PIL (pós-punk), onde opta por
vocais mais monocórdicos. Andi Sex Gang, vocalista do Sex Gang Children,
banda que pulou o estágio punk, mas que representa bem
essa passagem para o pós-punk, tinha uma flexão vocal
que, muitas vezes, lembrava o timbre do próprio John
Lydon. No Buzzcocks, por trás das camadas de
guitarras distorcidas, Pete Shelley cantava as
desesperanças e frustrações do amor adolescente de uma
forma bem melodiosa, quase pop no sentido literal, mas
que não deixava de ser punk.
Exposto dessa maneira, pode-se pensar: então,
do punk para o pós-punk, mudou tudo! Não exatamente.
Algumas características marcantes do punk continuaram intactas,
como o espírito contestador, o niilismo, o primitivismo,
o minimalismo, o hedonismo e, em menor grau, a
iconoclastia.
O niilismo (aqui valendo como negação
dos valores da geração precedente) não é tão
forte quanto parece. Num primeiro instante, dá a
impressão que o punk acabaria com tudo, que viria para
derrubar toda estrutura da cultura ocidental, desde a música
até a moda (In 1977 / I hope I go to heaven (…) No Elvis, Beatles or the Rolling Stones! – 1977, The Clash).
Mas não foi bem isso o que aconteceu, como sabemos. Na
mesma medida em que assustou, foi assimilado pelo
sistema. Isso, de certa forma, desmoralizou o punk. Mas o
pós-punk tem sua parcela niilista muito forte, começando
pelo método de gravação, produção e mixagem, que
privilegia todos os instrumentos democraticamente (o
punk privilegia mais o barulho da guitarra, coisa que o hard
rock setentista, em outra medida, já fazia). E também
em aspectos visuais. Algumas bandas, a começar pelo Echo & The Bunnymen,
dispunham o baterista na frente do palco, ou ao lado
dos outros instrumentos (ficando os membros da banda na
mesma disposição no palco). Antes deles, o T. Rex já fizera algo parecido, mas Marc Bolan ficava num degrau acima, mesmo que na parte de trás do palco.
O primitivismo consistia na redução
ao máximo dos recursos necessários para se fazer
música, num retorno ao básico do básico. Esses
recursos podiam ser tanto tecnológicos (como instrumentos
musicais, gravação e meio de distribuição) quanto em
relação à música em si, incluindo a temática lírica.
Assim, como muitos outros da época, a primeira fita do Warsaw,
por exemplo, com cinco músicas, foi gravada em apenas
um dia (18/07/1977). É importante lembrar que na época
da primeira explosão punk, o mainstream era
dominado por bandas de rock progressivo ou por bandas e
artistas pop que utilizavam recursos como guitarras
limpinhas, teclados na maioria das vezes angelicais,
vocais doces e melosos, backing vocals precisos etc.,
em produções que demoravam meses para conhecer seu
término. Isso tudo foi agravado com a moda de se juntar
o rock à musica clássica, que teve seu auge em 1974,
com Rick Wakeman e sua Journey to the Center of The Earth.
Dessa forma, o show business estava dominado por (e
reservado para) quem tinha muita grana e avançado
conhecimento técnico e musical.
Os punks entram em cena deturpando e desmoralizando todo esse stablishment (tanto no mainstream quanto no underground).
Para isso, baixo, guitarra e bateria ligados em
amplificadores baratos, que traziam a tiracolo uma
microfonia proposital, era só o que precisavam. E os
vocais desesperados, gritados, nervosos, levam ao primitivismo
temático, sem técnica, sem falsetes ou outros recursos,
rimando “you” com “do” sem constrangimento.
Mesmo em coisas mais calculadas, o improviso era a regra. Diz
a lenda que Johnny Rotten usou a palavra anarchist em Anarchy in the U.K. somente para rimar com antichrist,
que ele já tinha escrito e não queria mudar. Em
outro canto da mesma Londres de Rotten, Mick Jones havia
escrito uma música, chamada I’m So Bored With You.
Ao mostra-la a Joe Strummer, esse logo lembrou o
caráter punk revoltado da banda, e acrescentou um
“S.A.”, fazendo nascer um dos clássicos do primeiro
disco do Clash: I’m So Bored With The U.S.A.. E
assim, sem rebuscamento algum, falavam a linguagem das
ruas. É aí que justifica-se o culto a uma banda
considerada por muitos como precursora do punk, do
pós-punk e do gótico: o Velvet Underground.
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Quanto ao minimalismo, vale lembrar que
não é invenção dos punks – eles apenas
usaram com propriedade essa estética. Assim como John Cale
já aplicava essa forma de expressão musical, outros
músicos (maestros e compositores) anteriores a ele já
estudavam esse conceito. Uma série intitulada “Composições
1960”, de La Monte Young, pode ser considerada a
obra inaugural dessa escola, cuja premissa era de que uma música
poderia resumir-se a uma ou duas notas, que poderiam
ser repetidas à exaustão, com a intenção de hipnotizar
o ouvinte. Nos anos 70, no outro extremo dos punks,
Philip Glass também trabalhava em obras minimalistas,
algumas reforçadas por imagens, como no filme/disco Koyaanisqatsi,
de 1983, primeiro de uma trilogia sobre os problemas
do mundo moderno. Interessante notar que, nesse
trabalho, algumas músicas (minimalistas) são cânticos
entoados por vozes masculinas, que se aproximam
bastante da estética gótica da época. Não era de todo
estranho, pois Glass já utilizara recursos do barroco
em algumas de suas obras. Inclusive, já nos anos 90,
ele prepara uma trilha para o filme Drácula (aquele
mesmo, clássico de 1931, com Bela Lugosi), quando da
digitalização do mesmo.
No punk, o minimalismo é facilmente detectável.
Os acordes cheios, com o baixo marcando a tônica, não
trazem problemas na identificação das duas ou três
notas utilizadas. Mas isso não significa monotonia. É
só escutar qualquer disco dos Ramones e perceber
que mais notas só atrapalhariam, na realidade. Marky Ramone,
que antes havia tocado no Dust (como Marc Bell)
desaprendeu a tocar para poder entrar no Ramones, uma
vez que na banda Dust ele simplesmente destruia a
bateria! No pós-punk, esse minimalismo pode ser
evidente (como em Transmission, do Joy
Division, com suas duas notas marcadas pelo poderoso baixo)
ou disfarçado (como nos floreados de baixo de The Cutter,
que escondem as também duas notas da música). Mesmo
partindo para os lados eletrônicos, ainda encontramos essa
característica. Não só nas batidas da música
industrial, sem problemas de identificação, mas
também nas bandas mais acessíveis e (pretensamente)
mais preocupadas com arranjos; no Ultravox, por exemplo: um de
seus maiores clássicos, a belíssima Vienna, também é trabalhada em cima de duas notas.
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O hedonismo vem logo após a opção
pelo primitivismo e minimalismo. No punk, o hedonismo (busca pelo
prazer como sentido de vida) pode ser interpretado pelo
lema “live fast, die young”, levado ao pé da letra por
alguns (como Darby Crash, do Germs, ou mesmo Sid Vicious) e transformado em música por outros (Circle Jerks).
Considerar o prazer o fim da vida era uma das marcas
do punk: pra que anos de conservatório musical se dá
para conseguir algo até melhor no aqui e agora, nesse exato
momento, e vivê-lo intensamente, já que “não há
futuro”?
Os economistas têm uma variante para o hedonismo:
procurar obter o máximo de lucro com o mínimo de
esforço e de recursos possíveis. E é onde se
apóia o pós-punk, quando se apropria de elementos do
punk, refazendo-os e transformando-os em algo mais rico e de
brilho próprio. Há várias músicas que ilustram
perfeitamente esse hedonismo, mas podemos pegar como
exemplo Disorder, do Joy Division. Começa com
uma levada de bateria que é quase um riff, o que a faz
reconhecível nos primeiros segundos (coisa quase que impensável
no formato de música normal, até então). Entra
um baixo marcante, também utilizando o recurso do
riff, melódico, mas ao mesmo tempo minimalista, primitivo,
sem alterações no decurso da música. A guitarra
entra, porém não barulhenta, mas economicamente
criativa e distorcida no ponto exato entre a melodia e a saturação.
Por fim, entra o vocal, reto, limitado, que começa com
os versos “estive procurando por um guia que viesse e me levasse pela mão”, terminando com a decepção de “tenho o espírito / mas perdi o sentimento”. Mórbido. A soma desses quatro fatores é indivisível: retire um e a música se perde.
Essa característica hedonista do pós-punk
atinge também o aspecto visual. Tanto no punk quanto no
pós-punk vale a premissa de que o visual de bandas e fãs
deve ser o visual casual, das ruas. Mas, por suas características
próprias, o punk carrega nas tintas (literalmente),
deixando meio forçado esse visual que deveria ser o
mais espontâneo possível. O pós-punk, não, ele
literalmente não tem um visual específico. O Joy
Division, em quatro anos de existência, só fez uma
sessão de fotos da banda, e mesmo assim, com as roupas
usadas no dia-a-dia, pelo proletariado britânico. Nada
mais importava, além da música. No máximo, uma roupa
escura, discreta, sem excessos. O visual punk, pelo
contrário, primava pelo exagero: como uma tribo, seus
adeptos deveriam ser reconhecidos à distância, no mundo
todo. Esse visual combinava trajes maltrapilhos com
roupas S&M, vendidas (não por acaso) na loja de
roupas Sex, de Malcom McLaren e Vivienne
Westwood. Esse exagero fazia parte do jogo: chocar por chocar,
incluindo aí desde cabelos pontudos, despenteados e/ou
coloridos, até adereços não usuais, como
alfinetes, broches, lâminas e suásticas. Esse último
detalhe provocou desentendimentos entre os punks. Sid Vicious
causou problemas no próprio meio punk quando passeou num
bairro judeu, em Paris, com uma camiseta estampada com uma
suástica (aliás, da loja Sex). O Clash recusou-se a
tocar com os Sex Pistols enquanto eles usassem esses
adereços. E ainda começaram uma série de concertos
contra o racismo.
Por fim, a iconoclastia (I am an antichrist… o primeiro verso do primeiro hit punk, Anarchy in the U.K.,
com os Sex Pistols), que acabou sendo meio esquecida,
por também ter trazido certos dissabores,
principalmente aos punks. Quando Johnny Rotten vestia
uma camiseta rabiscada com um “I hate” sobre a
serigrafia de Pink Floyd, ele tentava destruir
um mito. Mas ele não imaginava que, anos mais tarde, eles
mesmos, os Sex Pistols, virariam ícones, tanto quanto o
Pink Floyd. Para o pós-punk, a iconoclastia seria utilizada
no sentido mais literal, ou seja, religioso. Não direto,
como os contemporâneos do black metal (que praticamente
se apóiam única e exclusivamente nisso), mas de
uma forma mais pessoal, no sentido de decepção ante
as crenças e conceitos pré-estabelecidos, incluindo
aí o próprio estado de espírito e religiosidade de cada
ser humano (I still believe in God / but God no longer
believes in me (…) heaven and hell / I know them well / but
I haven’t yet made my choice”, em “Wasteland“, The Mission UK – Till
legends live and man made God again (…) as we move
towards no end / we learn to die / red tears are shed
on grey, Love Like Blood, Killing Joke).
Essas questões mais filosóficas seriam
ampliadas e melhoradas pelos góticos. Por exemplo, o medo
da morte – natural do ser humano, o único animal que têm
consciência de que vai morrer um dia. Desde o punk, a morte
é tema recorrente. Mas no punk ele vem mais na forma direta
e universalizada (“O mundo vai acabar” é uma
das frases mais utilizadas por punks daqui e de lá de fora).
O medo da guerra nuclear, advinda de um conflito entre
Estados Unidos e União Soviética e a aniquilação
da raça humana como a conhecemos hoje era o medo imediato
do primeiro e, mais ainda, do segundo levante punk. Basta
dar uma rápida olhada nas capas de discos dessa época.
No pós-punk, a temática é mais no sentido
da desolação, que poderia ser provocada por uma
possível guerra, podendo ser a mesma cantada pelos punks.
Mas que poderia ser também por uma desolação
interior, uma catástrofe na existência pessoal (Now my hurricanes / broke down this ocean rain, Ocean Rain, Echo and The Bunnymen; and
I awake from dreams / to a scary world of screams (…)
and I feel that I’m dying / I’m down on my kness / I
want to go / I want to stay, Darklands, Jesus & Mary Chain).
Assim, ilustrando, o punk se preocupava com a explosão
da bomba nuclear; o pós-punk com os efeitos dela no
dia seguinte; o gótico com o apocalipse, no fim de
tudo, nos limites da alma. Dos três modos de ver a
morte, o gótico se preocupa mais com o desconhecido, o
intangível, o imprevisível, o enigmático. E esse
fascínio pelo mistério do sobrenatural é seu grande
mote.
Depois de tudo isso, podemos dizer que o gótico
parte do pós punk, sendo assim um segundo estágio
acima do punk (ou a partir dele). E que essa passagem também
merece uma análise à parte, ou seja, como surgiu
o gótico do pós-punk. Por isso, devemos ter em mente
que não existe uma linha que delimita ou separa um do outro.
E nem todas as bandas são exclusivamente desse ou daquele
estilo. Ou, mais longe ainda, que as bandas em geral se
limitem a esses três estilos. Como vimos no começo,
muitas bandas ou artistas começaram punks, partindo daí
para caminhos distintos. Isso foi necessário, para que
o rock voltasse para as ruas, voltasse para o domínio
popular, de uma forma democrática. Passado a bebedeira
(o punk), veio a ressaca (pós-punk), que derivou em uma
melhor visão sobre o mundo, começando pelo mundo
musical. E do punk/pós-punk surgiu a new wave,
por exemplo, que pode ser considerada um punk
bonitinho, feito para a sociedade de consumo. Mas também
tem as várias outras waves, com bandas como XMal Deutschland,
de um refinamento fora do comum. Também as
experiências eletrônicas, que podem ser tanto a house
pop que ganhou as pistas e as paradas de sucesso do
mundo (como a praticada pelo New Order nos anos 80),
quanto a E.B.M. de bandas como Front 242 – ou ainda o industrial de gente como Ministry, Skinny Puppy ou Einsterzunde Neubauten.
Mais recentemente, houve uma radicalização ainda maior
nesse campo eletrônico, com bandas como Young Gods, ou com o advento do digital hardcore, em bandas como Atari Teenage Riot ou Rancid Hell Spawn.
Há uma cena congelada no tempo, que tem bandas ainda
hoje atuantes, mas que se concentra e mira nesse
momento 79-82, principalmente nas bandas da célebre
casa noturna Batcave: os chamados death rockers. Sem
esquecer também dos punks ortodoxos, que migraram para
um som mais violento, fazendo surgir o hardcore, como Agnostic Front, Dead Kennedys, Discharge
etc., que nada têm que ver com o gótico, a não ser
pelo ponto de partida (ou seja, o próprio punk). E há
aqueles que nunca abandonaram o barco, como Stiff Little Fingers, U.K. Subs, GBH
etc., que continuam fazendo o bom e velho punk, seja
safra 77, seja safra 82, sendo quase um flash congelado
desse momento único, especial e (por que não?) –
mágico!
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