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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Subcultura Gótica: Origens, Influências e Consolidação.

Origens, influências e consolidação
Introdução
Gótico: apenas uma palavra
Ao longo dos anos, o termo gótico foi usado como adjetivo e classificação de várias expressões artísticas, estéticas e comportamentais. Mas, em sua maioria, estas classificações não possuem nenhuma relação com o significado primitivo da palavra.
O termo Gótico, que originalmente significa apenas relativo a Godos ou proveniente deles, foi usado a partir do início da Renascença, para designar de forma depreciativa a produção cultural ocorrida entre os séculos XII e XV e posteriormente de toda Idade Média, a qual foi associado o conceito de Idade das Trevas, em oposição à nova Idade da Razão ou da Luz: o Iluminismo (XVII e XVIII). Mas nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, gótico foi associado ao período medieval e aplicado à Literatura. Além disso, o termo Goticismo tem origem inglesa, Gothicism, e relaciona-se apenas à Literatura.
Em 1979 o termo gótico já foi utilizado para designar o movimento sócio-cultural que se constituía e se consolidaria poucos anos depois. Mas, a subcultura gótica/darkwave não possui nenhuma relação com os Godos, como a própria “arte gótica” (entre os séculos XII e XV) não possui. Portanto, em uma de suas primeiras aplicações, a palavra Gótico já foi usada com um sentido que não corresponde ao original, e torna-se nítida a diversidade de significados que esta palavra traz em si.
A subcultura Gótica/Darkwave
A subcultura gótica (relacionada a Darkwave a ponto de ser assim chamada por alguns) como conhecemos atualmente, é um contexto artístico e comportamental que inclui literatura, música, cinema, artes plásticas e vestuário (entre outros), de forma que um elemento enriqueça o outro e multiplique-se.
Pode-se dizer que sua origem ocorreu nos primeiros anos da década de 1980, mas suas influências iniciam-se no Romantismo do século XIX e passam pelo Modernismo, com o Impressionismo, Expressionismo e Surrealismo e Cabaret Culture, do século seguinte. Porém, a Geração Beatnick, inspirada na boêmia moderna, filosófica e artística francesa a partir de 1950 e posteriormente pelos escritores Beats dos Estados Unidos, é a influência mais recente e significativa da subcultura gótica/darkwave.
No final da década de 60, os beatnicks se diluíram e formaram ramificações como o movimento Punk e Glam da década de 70. A música de artistas como David Bowie e Velvet Underground, referências do Glam e do Punk, trouxeram vários elementos da cultura beatnick, como a prosa e a poesia. Dessa forma, o Glam e o Punk foram influenciados pela Cultura Beatnick, mas também foram determinantes nas características da subcultura gótica.
Mas todas essas tendências que influenciaram e compuseram a subcultura gótica, desde o Romantismo até as mais recentes, são apropriações e releituras através de abordagens distintas, muitas vezes, de forma alegórica e metafórica. As transições entre uma e outra, ocorrem sem rompimentos bruscos, de forma que as tendências posteriores resgatam elementos primitivos e somam-se aos seguintes.
É importante salientar que os fatores que definem uma corrente artística, filosófica ou apenas comportamental, não são apenas os temas adotados, mas principalmente a abordagem, ou a forma como os temas são trabalhados e expostos.
A subcultura gótica/darkwave, não se baseia apenas em alguns temas específicos, mas principalmente, em uma abordagem própria. Para que possamos compreender com mais clareza as características principais que compõem a subcultura gótica, desde o uso do termo gótico até as influências culturais e comportamentais mais presentes, é necessário recapitular alguns pontos.
A Baixa Idade Média
O período da Idade Média, compreendido entre os séculos V e XV, divide-se em dois sub-períodos: Alta Idade Média (V à XI) e Baixa Idade Média (XI até o século XV). É no início da Baixa Idade Média, na França, que surge a Arte Cristã ou Opus Francigenarum (obra francesa), que, aos poucos, substituiria o estilo românico e futuramente, no período da Renascença, passaria a ser conhecida, pejorativamente, como Arte Gótica.
O Teocentrismo, baseado na concepção de que Deus é o centro do universo, foi a corrente de pensamento predominante no período medieval. Assim, a Igreja Católica, responsável pela “educação espiritual” dos homens, consolidou-se como a principal autoridade. O poder econômico e político, e as influências sobre as ciências e artes, subordinavam reinados ao comando do clérigo. Era a Igreja que ditava os rumos que a ciência deveria seguir, que dirigia os exércitos e proclamava as leis. Além disso, a peste negra do século XIV, a exploração do feudalismo e a imutável hierarquia social contribuíram para a criação de uma situação calamitosa no fim do século XV. No século seguinte haveria o início de uma reação em todos os níveis, com o começo da Idade Moderna e a transição sócio-econômica para o Renascimento.
A Renascença e a Idade das Trevas
O período iniciado a partir do século XV (apesar de iniciar em épocas diferentes em cada lugar e ter várias fases) conhecido como Renascença, que surgiu na Itália e distribui-se gradativamente por outras regiões do continente europeu, consolidou uma idéia de ressurreição nas artes e na ciência baseadas no resgate da Antiguidade clássica greco-romana.
Além de inovações nos aspectos políticos e sociais e avanços técnicos e científicos, foi na Renascença que outros continentes foram descobertos através da navegação, que nasceu a imprensa e inventou-se a bússola. Foi neste período que o alemão Martin Luther deu início à Reforma Protestante; que Michelangelo pintou a Capela Sistina; que Copérnico escreveu De Revolutionibus Orbium, entre outros.
Os renascentistas acreditavam que a arte clássica greco-romana, que admiravam e buscavam reviver, havia sido denegrida na Idade Média pelos cristãos e, que a Igreja, através do poder exercido pelos dogmas religiosos, vetava os avanços tecnológicos e condicionava a produção artística. Neste contexto renascentista inclui-se também uma forte oposição ao Clero, embutida no Antropocentrismo, corrente filosófica na qual o homem é o centro do universo e, naturalmente, oposta ao Teocentrismo medieval. Dessa forma, mesmo sendo considerada uma etapa evolutiva do período medieval, a Renascença desprezava a cultura da Idade Média.
Assim, grande parte da arte produzida na Idade Média, como a arquitetura, escultura e pintura, foi classificada como gótica, em alusão ao Godos, povo germânico que invadiu o império romano a partir do século III.
Esta classificação tinha a clara intenção de denegrir a produção artística medieval, por considerá-la bárbara, rude, grosseira, exagerada; ou seja, com os mesmos adjetivos que caracterizavam os Godos.
Assim, a civilização dos Godos, que havia sido diluída no século VIII, portanto, 700 anos antes da Renascença, tornou-se um “bode-expiatório” dos renascentistas e a própria palavra Gótico teve seu sentido ampliado, podendo ser compreendido como sinônimo de bárbaro ou vulgar. Ainda, ao longo dos anos, a Idade Média iria tornar-se conhecida como Idade das Trevas, Noite da Humanidade, entre outras denominações.
Racionalismo, Iluminismo e Revoluções
Personagens como René Descartes, John Locke, Pascal e Newton figuraram no século XVII. O Racionalismo, baseado no conceito de que apenas a Razão (raciocínio lógico) seria suficiente para o desenvolvimento da humanidade, e o Humanismo, resgatando os filósofos da Antiguidade, eram as correntes que influenciavam as artes e as ciências. No panorama artístico, a arquitetura, escultura e pintura, destacaram o Classicismo e o Barroco.
Em meados do século XVII surge Iluminismo – tendo seu apogeu no século XVIII – que de certo modo, é herdeiro dos conceitos racionalistas e humanistas dos séculos anteriores aliado a uma maior liberdade de expressão individual. É o movimento iluminista que proclama o início de uma “era de luz” para a humanidade e um dos impulsionadores do capitalismo, além de tornar-se uma das principais referências na arte.
Neste momento, surge na Inglaterra e alastra-se pela Europa, um fenômeno sócio-político que seria conhecido como a 1ª Revolução Industrial. Ainda, desenvolve-se o Liberalismo político/ econômico e consolida-se o capitalismo. Assim, o século XVIII torna-se conhecido como o “Século das Luzes”. Porém, todas essas mudanças bruscas trazem efeitos colaterais no âmbito social.
Os avanços tecnológicos que proporcionaram a Revolução Industrial deram início a uma urbanização desenfreada e sem planejamentos com a migração do homem do campo para as áreas centrais, que resultaram em cidades sem infra-estrutura social e administrativa. As jornadas de trabalho tornam-se muito extensas e o valor da mão-de-obra, irrisório. Iniciam-se reações violentas por parte dos trabalhadores explorados e desempregados. Em algumas regiões, o número do crescimento populacional quadruplica. Em Paris, 25% da população é constituída por mendigos. Surgem as epidemias de tifo, cólera e tuberculose. Por outro lado, nascem os conceitos de capitalismo e a classe burguesa. No final deste século ocorre a Revolução Francesa (1789), que marca o início da era contemporânea. Baseadas em conceitos do Iluminismo, no século XVIII se desenvolvem as idéias Republicanas, postas em prática também na Independência dos Estados Unidos, em 1777. No Brasil, estas idéias também chegaram na mesma época, mas a nossa tentativa de independência, a Inconfidência Mineira, é abortada em 1789.
O quadro de miséria e desigualdade criado na Europa gerou uma insatisfação social e resultou num processo de regressão que buscava os ideais medievais ignorados pela Renascença. Inicialmente, essa tendência desenvolvia-se apenas no sentimento e comportamento coletivo. Porém, logo passou a designar um rumo artístico e uma nova visão do mundo centrada no indivíduo. A partir desta nova concepção iniciou-se o período do Romantismo.
O Romantismo
O Romantismo é um período cultural que se inicia na Europa no final do século XVIII, estendendo-se e desenvolvendo-se por outras partes do globo até o final do século XIX. Pode-se considerar que seu início ocorreu na Itália, Inglaterra e Alemanha (na Alemanha conhecido como Sturm und Drang – Tempestade e ímpeto). Porém, foi na França que o romantismo intensificou-se mais do que em qualquer outra nação. Foi através dos artistas franceses que os ideais românticos se solidificaram pela Europa e América. Sob o aspecto ideológico, o Romantismo pode ser considerado uma reação de fuga, ao iluminismo e racionalismo do período anterior.
As principais características do Romantismo são a valorização das emoções em temas que recorrem à religião, nacionalismo, amor, individualismo e subjetivismo, desenvolvidos a partir da originalidade e liberdade criativa do artista. Na pintura, o francês Delacroix e o espanhol Francisco Goya são os maiores representantes. Na música, ocorre a potencialização da expressão individual através de temas folclóricos e nacionalistas. Neste período romântico da música, destacam-se as últimas obras de Beethoven, além das composições de Wagner, Chopin e Schumann, entre outros. Mas foi através da Literatura que o Romantismo teve suas expressões mais intensas e solidificou sua identidade.
Romantismo Literário e Gothic Novel
A obra do escritor alemão Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther, publicada em 1774 foi uma das precursoras do romantismo. Este livro trazia intensidade emotiva sob a liberdade criativa do autor, além de outros aspectos fundamentais do romantismo.
Além disso, uma das principais características do Romantismo Literário era a evocação à Idade Média em seus temas. Neste caso, o autor almejava uma idealização que não correspondia à sociedade ou ao período em que vivia realmente. Esta característica é conhecida como “Espírito de evasão”. Porém, esta referência medieval do romantismo era sob uma perspectiva idealizada. Isto é, buscava resgatar valores como honra e valentia que, na visão do escritor, eram comuns no período medieval, mas que não necessariamente existiram.
Na árvore genealógica que ilustra este artigo, há alguns rótulos não oficiais, usados apenas para organizar uma listagem on-line. O foco desta árvore é a formação dos estilos gothic/ darkwave/pós-punk e “parentes” mais próximos. Obviamente, se o foco fosse a formação de outros estilos, estes estariam no centro e mais detalhados.
Abaixo, comentamos, alguns mais longamente que outros, os seguintes rótulos/estilos:

01 – Glam Rock
02 – Krautrock
03 – ColdWave
04 – New Wave e French New Wave
Neue Deutsche Welle
05 – Pós-Punk
06 – Industrial
07 – E.B.M.
08 – Darkwave
09 – Gothic e Gothic-Rock
10 – New Romantic
11 – Death-Rock e Horror-Punk
12 – Ethereal e Ethno
13 – Medieval
14 – Trip-Hop e Trip-Goth
15 – Synth-Pop
16 – Futurepop
Notas:
CBGC
Importante clube noturno de NY na década de 70. Costuma-se chamar geração CBGC de 1975 as bandas proto-punks (proto-pós-punks na opinião de alguns) que tocavam nos palcos desta casa neste ano: Talking Heads, Patty Smith Group, Television, Blondie, Richard Hell and The Voidoids, Ramones e muitos outros que foram precursores do que poucos anos depois seria chamado de Punk, Pós-Punk e New-Wave.
Geração 68
1968 foi um ano que a juventude do mundo ocidental saiu as ruas em busca de mudanças culturais. Isso refletiu na criatividade musical deste período. De 1967 a 1970 se tornam conhecidos vários artistas que influenciaram diretamente o que posteriormente foi chamado de Gótico, Pós-Punk e Darkwave: Iggy Pop & The Stooges, The Doors, Velvet Underground, Nico, John Cale, David Bowie e Leonard Cohen, ente outros.
1 – Glam Rock
Tecnicamente, o Glam Rock existiu de 1970 a 1975. Mas sua influência pode ser notada até hoje. O estilo se caracteriza por uma temática Hedonista-Decadentista, Androginia, um Rock básico ou recheado de experimentalismo, muitas vezes considerado Proto-Punk, mas também havia lugar para muito lirismo, folk, cabaret e poesia. Exemplos: T-Rex, New York Dolls, Iggy Pop & Stooges, David Bowie, Lou Reed, Roxy Music, Sweet, Slade, Gary Gltter.
O Glam-Rock influenciou diretamente o Pós-Punk e o Gótico, tanto na musicalidade como em sua temática e abordagem, sendo que muitas das primeiras bandas góticas pareciam e soavam muito como bandas Glam (Bauhaus e Specimen).
2 – Krautrock
Krautrock é o nome que se dá ao experimentalismo no Rock alemão de aproximadamente 1969 a 1977. Este experimentalismo mistura Rock, Psicodelia, música experimental eletrônica, minima- lismo, proto-industrial, e música erudita moderna experimental, jazz e todo o mais que se possa imaginar. O movimento influenciou tanto a música Industrial, como as tendências eletrônicas, assim como as varias tendências pós-punk e new wave, além do synth e EBM.
Exemplos: Throbbing Gristle (considerada a primeira banda Industrial), Kraftwerk (que influen- ciou quase tudo que se conhece em termos de música eletrônica), Can, Neue, Tangerine Dream, Faust, etc.
3 – Coldwave
O termo “cold wave” foi criado para definir uma linha musical eletrônica, levemente dançante e minimalista que tinha teclados frios (ta aí o porquê do nome), densos e batida arrastada/marcada. Podemos citar Gary Numan como sendo o pai dessa corrente, seguido de John Foxx (Ultravox).
A coldwave ganhou um aliado mais “rock” que vinha do norte da Inglaterra: Joy Division que por sua vez inspirou dezenas de bandas entre elas o Crispy Ambulance, Danse Society, The Wake (UK – não tem relação com o selo americano Cleópatra), The Names (Bélgica), Fra Lippo Lippi (Noruega – apenas em seu primeiro álbum).
Já na França o termo coldwave também serve para se referir a qualquer banda que faça parte de sua cena obscura (Kas Product, Trisomie 21, OpeRa Multi Steel, Norma Loy, Guerre Froide, Little Nemo, Baroque Bordello) seja ela mais “death rock” ou mais etérea. Isso pode ser comprovado em um recente livro que fala da cena européia com o título de Generation Extríme – 1975-1982, du punk a la cold wave, de Frederic Thebault. A cena francesa foi realmente uma cena de dar gosto e tardiamente e postumamente seus talentos vêm recebendo os créditos.
Tirando seu lado meio “progressivo”, sem dúvida que o Krautrock influenciou o povo da coldwave, assim como diversas tendências eletrônicas e minimalistas surgidas na metade dos anos 70. Sem contar que foi fundamental para algumas criações de Brian Eno; o mestre que moldou o som de David Bowie em sua “fase alemã”.
(Por Heltir)
A trilogia formada pelos discos Low, Lodge e Heroes reflete muito bem os sentimentos esquisitos da Berlim daquela época. No final dos anos 70, suas ruas ainda viviam atormentadas pelos estilhaços da Guerra Fria (cujo fracasso de ambos os lados se refletia no descrédito de resultados da Corrida Espacial e de eternas ameaças nucleares) e da cortina de ferro instalada pelos regimes comunistas na Europa Oriental.
Havia ainda o muro da vergonha, que dividia a cidade em duas e isolava a parte oeste de toda a Alemanha Oriental ao redor. A falta de perspectivas e o isolamento “entre quatro paredes” fizeram a dupla Bowie/Eno criar – sobretudo em Low – texturas sonoras que eram descritas como “um deserto futurista congelado por sintetizadores”. Nascia ali o embrião do gênero que viria a ser conhecido por coldwave ou a facção mais fria, robótica e apocalíptica do pós-punk. Não por acaso, o Joy Division tiraria seu primeiro batismo (Warsaw) de faixa de abertura do lado B de Low.
(Por Abonico R. Smith)
Além de Gary Numan e Ultravoxx, também Cabaret Voltaire, a “fase Faith” do The Cure, Kraftwerk, Cocteau Twins e Dead Can Dance, e algumas fases de Siouxsie and The Banshees também são citados como Coldwave. Mais tarde o termo Darkwave é aplicado à algumas tendências influenciadas por esta estética.
(Por Kipper)
4 – New-Wave e French-New Wave
Um dos rótulos mais incompreendidos que existe é New-Wave, também porque o rótulo acaba se tornando abrangente demais. A grosso modo, quando o rótulo Punk se esgotou em 1977, as coisas mais “normais” eram chamadas de New-Wave, e as mais “alternativas ou experimentais” de Pós-Punk. Pra complicar, algumas bandas dos dois grupos eram encaixadas também como Góticas.
A versão mais reproduzida sobre a origem do nome é que ele vem de French-New-Wave, um movimento de renovação do Cinema Francês da década de 60, representados por cineastas como Jean Luck Godard, François Truffaut, etc. Esse movimento é chamado em francês de Nouvelle Vague (nova onda). Os filmes costumam ser sombrios, existencialistas, mas irônicos, usando de muito simbolismo e abordando a alienação social e psicológica do indivíduo.
Na música pop, no final anos 70 para o começo dos 80, o New-Wave começou a ser usado para designar as bandas que haviam começado em 1974/75 como Punk, mas depois seguiram um caminho experimental variado e temáticas e abordagens às vezes semelhantes ao movimento de cinema citado acima. Exemplos: Talking Heads, Patty Smith, Television e outros da cena de Nova York. Na Inglaterra, bandas como The Cure e Siouxsie and The Banshees eram consideradas tanto New-Wave como Pós-Punk e Góticas. Ao mesmo tempo em que bandas como Soft-Cell e Devo e outras ligadas ao Synth-pop e minimalismo musical.
O movimento New-Wave, depois permaneceu, porém de forma alguma se resumia à “um povo com roupa colorida que dançava para os sintetizadores”. Temos ainda a versão francesa do Movimento musical New-Wave, a French-New-Wave (algumas bandas sendo chamadas também de Coldwave). Parte destas bandas influenciou o que depois chamaríamos, no começo dos anos 90, de Darkwave. Então, às vezes, o rótulo Darkwave é usado retroativamente para classificar estas bandas. Exemplos: Kas Product, Opera Multi Steel, Trisomie 21, Collection D’Arnell Andrea.
Evidentemente estas bandas acima tiveram influências como Cocteau Twins e outros experimentos que também influenciaram toda a música dos anos 80. Pelo caminho da música erudita experimental, entram tanto a eletrônica como sonoridades folk e tribais.
Neue Deutsche Welle (NDW)
Na Alemanha temos a Neue Deutsch Welle (NDW – Nova onda Alemã – German New-Wave), que possuia um lado mais experimental, e outro mais comercial. Do lado mais experimental é comum listar bandas que encontramos também catalogadas como Industrial ou Góticas: Malaria, X-Mal Deutschland, Einsturzende Neubauten, etc. Do lado mais comercial: Falco, Trio, Spyder Murphy Gang, Nena, etc.
Definitivamente, uma música de temáticas “Noir”, mas com abordagem pós-punk usada com elementos eletrônicos.
Obs: Assim, considerando todas as variantes do uso desses rótulos, fica mais fácil entender a mistura desde os anos 80 entre o público e som Gótico, Darkwave e New-Wave nas casas noturnas paulistanas chamadas de “góticas”.
5 – Pós-Punk e No-Wave
Não vamos entrar em detalhes da história do Positive Punk aqui. Do ponto de vista do Gótico, basta saber que de 1979 a 1983, entre as muitas bandas consideradas Pós-Punk e Positive-Punk, algumas eram ao mesmo tempo chamadas de Góticas. Das bandas Pós-Punk, algumas eram chamadas de Coldwave em alguns países. Mas o termo Coldwave é bem menos difundido que os demais.
Na cena que seria chamada de Gótica, os rótulos competiram, até que de 1983 para 1984 o termo Gótico se fixa totalmente, ao mesmo tempo que as características e conceitos do que seria chamado de Gótico, a partir deste ponto, também se estabilizam e se fixam.
O Pós-Punk definia um leque grande de estilos, com base comum nos princípios do minimalismo, experimentalismo e outros comuns ao punk, o glam-rock, new-wave, NDW, Industrial, synth e o punk-glam. A abordagem era diferente do punk: mais introspectiva, onírica, sensível e irônica mas sem perder a ironia e o humor-negro. A temáticas eram variadas, usando de todo repertório Pop como metáfora para comentar questões cotidianas.
Exemplos de Bandas consideradas tanto Góticas como Pós-Punk: Bauhaus, Alien Sex Fiend, The Damned, Sex Gang Children, Malaria, The Cure, X-Mal Deutschland, Siouxsie and The Banshees, Birthday Party, Nick Cave, Specimen, Joy Division, etc.
Resumindo, podemos dizer que a partir de 1983 o termo Gothic se fixa, sendo aplicado também retroativamente. Outros rótulos se fixam e são aplicados retroativamente também. No-Wave é mais ou menos o Pós-Punk Norte Americano de NYC. Bandas: DNA, Mars, Lydia Lunch.
6 – Industrial
O termo Industrial teria sido sugerido pelo músico e performer Monte Cazazza: “música industrial para pessoas industriais”. A idéia era uma “não-música” que satirizasse o mundo industrializado. Influenciados por experiências feitas na música erudita experimental ao longo do século XX, um dos resultados foi o Industrial que surgiu em meados dos anos 70, sendo a banda Throbbing Gristle considerada uma de suas criadoras (ao lado de Monte Cazazza). Industrial constituía em buscar fazer algo musical sem melodia ou mesmo sem instrumentos, usando de objetos cotidianos e/ou industrializados. As sonoridades podiam tanto ser extremamente delicadas como totalmente perturbadoras e agressivas.
Em 1980, surge um dos ícones do industrial, a banda alemã Einsturzende Neubauten. Com o tempo, bandas vão mesclando o estilo com outros, e surge o Industrial-Rock, como o caso da banda Nine Inch Nails, que ainda guarda bastante ligação com o estilo original.
Mais recentemente, ao longo dos anos 90, se popularizou um estilo chamado Industrial, com muitos elementos de Metal, mas que não tem mais quase nada da experimentação do Industrial original. Mas ainda podemos encontrar bandas que fazem hoje um som Industrial mais tradicional.
Outras bandas básicas do estilo original, também importantes para EBM e Synth: Cabaret Voltaire e Clock DVA. Originalmente Influenciados pela música experimental de eruditos como Stockenhausen, hoje é difícil imaginar, mas as raízes do experimentalismo do Industrial influenciaram também as inovações do Rap e do Hip-Hop original. Quando em 1982 África Banbaata “sampleia” o Kraftwerk e inventa o Electro, (em Planet Rock) é apenas o círculo da história que se fecha.
7 – E.B.M. (Eletronic Body Music)
A EBM é outro dos estilos surgidos do experimentalismo eletrônico dos anos 70, guardando sempre grande intercâmbio com o Industrial e gerando subgêneros. O maior ícone é a banda Front 242. Outras são Nitzer Ebb, Klinik, Neon Judgement, Skynny Puppy, Front Line Assembly, Leather Strip, Wumpscut, Hocico, etc. Muitas bandas são classificadas também como Industrial.
(Por Kipper)
Atualmente, costuma-se chamar a EBM “antiga” por “Old-School” EBM pela diferença que há entre sons mais antigos e novos. Difícil dizer com precisão quando termina a EBM old-school cronologicamente; mas a grosso modo, isto compreende um período que começa em 1982 (embora algumas bandas sejam anteriores a essa data), com o lançamento de um dos primeiros cd’s da banda Front 242 (Geography). Sonoricamente, a E.B.M antiga é bem mais semelhante à música industrial da época do que a atual (com o tempo o som foi evoluindo sofrendo influências de vários outros gêneros).
Bandas conhecidas de EBM antigo, entre outras: Front 242, Die Krupps, Nitzer Ebb, A split a second, The Neon Judgement, entre outras. EBM “Old-School” é mais usado como um termo musical, pois ainda existem bandas que fazem tal som, conservando aspectos mais, digamos assim, “puros”, dos primeiros dias da Eletronic Body Music. No começo dos anos 90, algumas bandas de EBM começaram a “puxar” elementos do synthpop, fazendo um som mais pop, mais fácil de se ouvir e de se vender também: o Futurepop.
Existe o que algumas pessoas chamam de Harsh EBM (ou Terror EBM, Agrotech). Isso denomina uma variante da EBM que surge no começo dos anos 90, mas não se populariza até a metade dele. Harsh EBM, como o nome já diz, é a variante pesada da EBM nos dias atuais, batidas distorcidas, sintetizadores ácidos e vocais as fora de melodia, agressivos e também, claro, distorcidos; com letras pesadas e não muito otimistas que fazem uma melodia (ou não) bem caótica. As principais bandas desse gênero são: Suicide Commando, Unter Null, Grendel, Waldgeist, Tactical Sekt.
(Por Daniel Calvo)
8 – Darkwave
Este é um dos rótulos mais controversos. Existem pelo menos três significados mais difundidos para Darkwave:
a) No começo dos anos 90 a gravadora norte-americana Projekt começou a usar o termo DarkWave para definir seu catálogo. Como esse catálogo incluía muitas bandas similares à Cocteau Twins, Dead Can Dance, Industrial clássico e sonoridades Ethereal, estes estilos passaram a ser chamados também de Darkwave. Por extensão, passou-se a chamar de Darkwave retroativamente a bandas dos anos 80 que tinham estilo semelhante e que na verdade influenciaram a Darkwave dos anos 90. Exemplos são bandas francesas como Opera Multi Steel, Collection D’arnel Andrea e as duas bandas Inglesas já citadas. Bandas que começaram fazendo uma New-Wave mais alternativa passaram a ser incluídas neste rótulo. Muitas bandas do estilo Ethereal também entram nessa classificação: Black Tape for a Blue Girl, Love Spirals Downsward, Lycia, Bel Am. etc, reclassificadas retroativamente: Cocteau Twins, Dead Can Dance, Dali’s Car, Opera Multi Steel, etc.
b) Em razão de bandas como Cocteau Twins terem sido lançadas pelo mesmo selo que Bauhaus, (4ad) e a pesquisa sonora e influências guardarem ligações com o que se fazia no Pós-Punk/Gótico (além de ter origens comuns), também acabou-se por usar o termo Darkwave para todo o Gótico que não fosse muito “Rock”. Algo como uma “New-Wave mais obscura”. (Sempre lembrando que New-Wave não se resume a “surf-rock colorido”).
Assim, em alguns casos, Darkwave é usada quase como sinônimo de Gothic. Além disso, bandas como The Cure (principalmente de 81 a 83.) e Cocteau Twins, só para dar dois exemplos, na mesma época trabalhavam com sonoridades muito próximas e “ethéreis” (góticas na opinião de alguns).
c) Darkwave foi também o rótulo utilizado para bandas eletrônicas alemãs do começo da década de 90, mesmo que depois elas tenham enveredado por estilos que hoje recebem outras classificações. Exemplos: Project Pitchfork e Das Ich, no início das suas carreiras.
Esses três sentidos às vezes se complementam, às vezes se confundem. No sentido C, mas também nos A e B, o estilo acentua suas bases eletrônicas: Exemplos: Wolfsheim, Poesie Noire, Diorama, Diary of Dreams, etc.
9 – Gothic e Gothic-Rock
O Goth/Gothic se tornou muito mais que um gênero musical: uma subcultura e um estilo de vida que acabam caracterizando até outros gêneros musicais (desde que estes não sejam esteticamente – musical e liricamente – incoerentes com o que significa, no nosso contexto, Gótico).
Os primeiros usos “oficiais” do adjetivo Gothic foram ao final da década de 70 para bandas como Bauhaus, Joy Division e Siouxsie and The Banshees, que eram também chamadas de pós-punk. Mas as influências destas bandas não se resumiam ao punk. Aqui, bandas que depois seriam chamadas de Death-Rock ainda eram chamadas de Gothic-Rock ou Pós-Punk. Na verdade, a fronteira entre o Gothic-Rock e o Death-Rock é nebulosa, acontecendo uma “retro-influência”. Exemplos: Alien Sex Fiend, The Sisters of Mercy, Love Like Blood, Siouxsie and The Banshees, Killing Joke, Inkubus Sukubus, Nosferatu, London After Midnight, The Ghost of Lemora, Paralysed Age, Audra, etc.
O Gótico continuou seu desenvolvimento ao longo dos anos 90 e no século 21, desenvolvendo cenas em todas as latitudes e longitudes. Bandas de estilos musicais não tipicamente rock também são consideradas Goth. Por isso elas podem também ser encontradas nos demais itens deste glossário.
10 – New Romantic
No começo dos anos 80, o estilo New-Romantic conviveu e influenciou muitas bandas chamadas Góticas, sendo que características do New-Romantic foram incorporadas a estética gótica.
O New-Romantic se caracterizava por uma espécie de “ultra-individualismo dandi”, expressado por roupas super “chiques” (mas geralmente modernas) e por uma música hedonista e dançante. Os ícones eram David Bowie e Duran Duran. (Lembram do visual e do som destes dois no começo dos 80’s? Esta era a estética e música New Romantic).
11 – Death-Rock e Horror-Punk
O termo Death-Rock surge nos Estados Unidos aproximadamente em 1981 com a banda Christian Death. Depois, quando o termo Goth se firma na Inglaterra, (de 1982 a 1983, aproximadamente) Death-Rock passa a ser usado também lá para as bandas “Pós-punk/Góticas” mais “Punk-Góticas”. Enfim, os góticos tendem a considerar a maioria delas, góticas também.
O Death-Rock pode ser visto tanto como uma cena à parte ou como uma parte do Gótico. Historicamente, seria o lado, do Gótico mais ligado ao Punk-Rock, e mais escrachado e irônico, decadente, circense e ligado a um clima de cabaré modernista (não que estas referências não estejam no Gótico em geral, mas no Death-Rock elas são muitas vezes exageradas e levadas ao extremo). Mas sem perder um certo tom existencial ou niilista.
Exemplos: Alien Sex Fiend, Sex Gang Children, Cristian Death, Cinema Strange, The Last Days of Jesus, Zombina and The Skeletones, Tragic Black, etc. Dentro do Death-Rock existem subdivisões e outras variantes que se aproximam mais do Gótico, se tornando difícil distinguir, ou, por outro lado, se afastam do Gótico, chegando até a um punk-hardcore de temática de Horror.
Entre elas está o “Horror-Punk”, que seria o Death-Rock que se aproxima de uma sonoridade e atitude mais Hard-Core/Punk, e com temáticas que vão ainda mais radicalmente no “Horror-Cinema B”. Exemplo: Misfits.
12 – Ethereal e Ethno
Nas subdivisões da Darkwave, temos o Ethereal, conhecido por suas melodias lentas e delicadas, e seu clima onírico. Pode ter base eletrônica ou acústica, se confundindo com o Ethno, se explorar ritmos ou melodias “Ethnicas”, ou seja, músicas tradicionais de outras culturas (não-européias) ou folclóricas (européias).
Mas é importante lembrar que o Ethereal não é simplesmente música folclórica. De qualquer forma, ambos os estilos são dançantes. Influenciado pelas pesquisas de música erudita experimental do século XX, e seus resultados, como o Synth-Pop, Trip-Hop, Darkwave etc, Daí sua mistura de experimentalismo eletrônico e elementos Folk ou tribais. Exemplos: Cocteau Twins, Dead Can Dance, Lycia, Theodor Bastard, Bel Am, Collection D’Arnell Andrea, QNTAL, Love Spirals Downward, Kirlian Kamera, Attrition, This Ascension, Black Tape for a Blue Girl, etc.
Muitas bandas deste estilo são classificadas também, em outros contextos, como Medieval, World Music, New Age ou Dark-Ambient.
13 – Medieval
Algumas bandas Darkwave aprofundaram sua pesquisa de ritmos tribais e folclóricos do mundo inteiro, ou de música européia pré-clássica, (várias fases da música medieval) sem, todavia, deixar de lado a abordagem moderna e as bases ou experimentalismos eletrônicos.
Exemplos: QNTAL, Mediaeval Baebes, Estampie, Corvus Corax, Ataraxia, Arcana, Helium Vola, etc. Algumas bandas buscam fazer um som medieval “autêntico”, enquanto outras buscam um som “para festas”, dançante. Algumas são classificadas também como Darkwave ou Ethereal.
14 – Trip-Hop e Trip-Goth
A data “oficial” de batismo do Trip-Hop é 1995, quando jornalistas precisavam de um novo termo para nomear toda uma corrente de música eletrônica/pop experimental, especialmente a cena local das cidades Bristol e Portishead na Inglaterra.
1994 é o ano do emblemático álbum Dummy do Portishead, que traz todos os elementos básicos do estilo de forma bastante clara. Mas mesmo sem nome, o estilo está entre nós na virada para os anos 90. Por que o nome “Trip-Hop”?
A parte Hop vem de Hip-Hop, pois a maioria dos ritmos experimentais deste gênero tinha como base, alterações ou quebras no hip-hop (claro que há outras influências). A parte Trip vem do termo viajar (trip, em inglês) devido a forte influência de sons “viajantes” do Jazz experimental, Jazz-swing e Darkwave (às vezes, Ethereal). Outra influência é a de trilhas sonoras de filmes, especialmente os de base jazzística antigas.
(Veja a descrição completa no Texto Complementar: Trip-Hop)
15 – Synth-Pop
No final dos anos 60, as primeiras músicas feitas com sintetizadores começaram a ser lançadas. As experiências em música eletrônica, que estavam apenas na música erudita, começam a aparecer na música Pop. Por isso muitos dos primeiros a produzir música sintética eram indivíduos com formação erudita.
O experimentalismo eletrônico se espalha e se mistura com o Jazz e o Rock, como no caso do Krautrock (ver item 1). O uso de elementos eletrônicos minimalistas também foi elemento de constituição da Cold Wave (parte mais “robótica” do pós-punk), da New Wave e praticamente todos os estilos eletrônicos posteriores, como a EBM, DarkEletro, Eletro-Goth, Futurepop e outros.
(Por Kipper)
Uma das principais bandas que fizeram influência no Synth-pop antigo, foi Kraftwerk (1970), quando tocavam uma música algumas vezes desarmoniosa, porem inovativa, baseada em sintetizadores.
No fim dos 70’s muitos artistas relacionados com esses meios apareceram, principalmente na Inglaterra, que usavam o sintetizador como seu instrumento principal. Entre eles: Ultravox, OMD, Gary Numan, e Human League.
(Por Daniel Calvo)
16 – Futurepop
Futurepop é um gênero recente (a partir de 1990). É uma subdivisão da EBM influenciada principalmente pelo Synth-pop e outros gêneros (techno, electro-goth, darkwave). Bandas de Futurepop são bandas de EBM que em tempos recentes começaram a fazer um som mais “pop”. Comumente vê-se pessoas chamando futurepop de EBM, o que, realmente, não deixa de ser.
Em relação aos sintetizadores, existe uma notável influência do trance e do techno, nos vocais também (vocal quase sempre limpo, destacado e alto em relação à música em geral). O Termo futurepop foi usado pela primeira vez por Ronan Harris (VNV Nation) e Stephan Groth (Apoptygma Berzerk) tentando descrever melhor o som que faziam, que não se encaixava “perfeitamente” nas categorias já existentes.
Depois do gênero ter sido citado pela primeira vez, várias bandas começaram a compor sobre o gênero Futurepop. Algumas bandas relativamente conhecidas de Futurepop são: Icon of Coil, Apoptygma Berzerk, Covenant (recentemente), VNV Nation, Fortification 55, Assemblage 23, Funker Vogt e Melotron (algumas músicas). Algumas bandas de EBM pesado também possuem uma certa pitada de trance em suas músicas (Grendel, Suicide Commando no último cd).
Trechos do Livro “GOTH – Identity, Style and Subculture” de Paul Hodkinson
No seu livro Goth: identity, style and Subculture, Paul Hodkinson organiza três grandes grupos de caracterísricas e símbolos da Subcultura Gótica na Inglaterra. Sua pesquisa compara a cena gótica Britânica do final dos anos 90, com a tradição desta Subcultura desde o início dos anos 80. Confira uma pequena introdução do livro e alguns trechos importantes traduzidos.
Gótico como Estilo Subcultural
“(…) Não há espaço suficiente, aqui, para descrever cada artefato específico valorizado na cena gótica, nem para detalhar todas as formas complexas pelas quais góticos, individualmente, os selecionam, os combinam e sutilmente os transgridem. Simplesmente tentarei delinear os aspectos estilísticos mais importantes da subcultura em relação a temas gerais particularmente proeminentes e consistentes. Entitulados ‘o sombrio e o macabro’, ‘feminilidade e ambiguidade’ e ‘fragmentos de estilos relacionados’, estas são, obviamente, categorias-guarda-chuva artificiais e, como tais, inevitavelmente caracterizadas por diversidade e sobreposição. Mais uma vez é preciso enfatizar que os os indivíduos montavam seu próprio estilo selecionando dentre os elementos que eu descrevo e que, como consequência, poucos, senão nenhum, adotavam todos eles. O valor destas categorias È que elas permitem a demonstração da consistência estilística geral da cena gótica, sem deixar de lado os elementos de diversidade e dinamismo. (…)”
Entre a fúria e a introspecção
Existem duas datas mágicas para o que será relatado a seguir: 1977 e 1982. Estes dois anos marcam duas fases do punk, primordiais para o entendimento da música das décadas posteriores. O ano de 1977 marca o surgimento, para o mundo, do punk rock, independente de ele já estar sendo praticado de forma mais branda nos EUA, antes disso. Já 1982 marca seu “multifacetamento”: new wave, no wave, darkwave, góticos, hardcore, skins, ska, two-tones, world music etc. Nesse meio tempo é que o pós-punk existiu de forma mais intensa. Isso porque as delimitações não estavam definidas, tudo fazia parte de um único estilo, como se fosse o efervescente centro de um vulcão, prestes a expelir sua lava, lançada ao mundo nos anos seguintes em vários segmentos a escorrer pela montanha.
Nesse caldeirão, chamado pós-punk, cabia o experimento do Gang of Four, com suas batidas afro-punk-funks, lançando o fundamental Entertainment! em 1979; mas a banda somente ganharia as paradas do mundo em 1982, com o single I Love a Man In a Uniform, já totalmente pop. Cabia também os experimentos similares do Talking Heads, banda pertencente à cena proto-punk de Nova Iorque, mas que deu as bases da world music ao mundo, com seu My Life In The Bush of Ghosts, de 1982. Ou ainda a opção pelo eletrônico, em bandas como Ultravox, que começou punk com Ultravox! e terminou new romantic nos anos 80. Ou os caminhos tenebrosos (no bom sentido) pelos quais trilharam Damned e Siouxsie & The Banshees, por exemplo, que acabaram no gótico oitentista. Ou até mesmo aqueles que nunca abandonaram o pós-punk, apenas transmutando-o de acordo com os anos, como The Fall ou Nick Cave (seja no Boys Next Door, no Birthday Party ou com os Bad Seeds). Sem contar aqueles que ainda não sabiam que caminhos trilhar, mas sabiam que algo tinha de ser feito, como Mick Hucknall (Simply Red) e Roland Gift (Fine Young Cannibals), que foram vocalistas de (inexpressivas) bandas punks. O U2 era punk. Tudo era punk, senão por ideal, por moda mesmo.
Ainda que dando essa impressão, o punk rock não veio acabar com nada: veio apenas acertar a rota da música jovem ocidental. Por trás daquela algazarra sonora, havia todo um “modus operandi” que norteou a produção cultural posterior, indo desde a democratização da música até a literatura (vide o impulso dado aos fanzines). Com isso, não há dúvida alguma, resgatou a fórmula da música pop (quase perdida em meios às plumas, paetês, espetáculos e exageros dos anos 70): mensagem direta e imediata, em democráticos três ou quatro minutos, tempo esse suficiente para que todos pudessem dar seu recado.
Esse punk da primeira hora era feito por moleques que mal sabiam tocar seus instrumentos, ou desconheciam seus limites (tanto os deles próprios quanto os dos ditos instrumentos). Então, para que chamassem a atenção e fossem ouvidos, vindos dos subúrbios e sem voz na mídia, levaram a extremos aquela fórmula pop: as músicas, barulhentas, mal passavam dos dois minutos; os vocais eram vociferados, gritados mesmo; o baixo estalado; a bateria veloz e furiosa; a guitarra distorcida; e assim por diante. Teclado, num primeiro momento, nem pensar, pois era o símbolo máximo dos representantes do mainstream da época, ou seja, do rock progressivo – que, contraditoriamente, não deixava de ser popular, pois era moda. Essa visão distorcida desse potencial “inimigo” (o teclado) só foi revista com a evolução do punk para o pós-punk.
Costuma-se dar o nome de pós-punk àquela estética sonora surgida imediatamente após o punk. É como se fosse um primeiro estágio de evolução da crueza punk. E dessa evolução continuada surgem praticamente todos os estilos e diretrizes do universo musical dos anos 80, indo desde os estilosos góticos até as dançantes raves e seus ritmos eletrônicos. Sem contar que estilos já existentes e consagrados, como o ska, o reggae e até o heavy metal, tiveram de refazer seu caminho. O próprio heavy metal só ganhou a cara que conhecemos hoje quando assimilou a fúria punk (via thrash, black e outros estilos mais radicais).
Dessa forma, vamos encontrar bandas como o The Police ou o The Jam, entre outros, que eram formadas por músicos bastante técnicos. O primeiro do Police (Outland’s D’Amour), lançado em 1977, tinha o frescor punk, mas o segundo, do ano seguinte, já trazia música dançante e elaborada, a partir do título do álbum – Regatta de Blanc, ou seja, “Reggae de Branco”. Pra se ter uma idéia, Andy Summers, guitarrista do Police, já havia tocado com Eric Burdon (Animals) e Robert Fripp (King Crimson). Por seu turno, para o Jam existir como punk, justificava-se que o estilo tinha influências mod sessentistas, o que nem sempre era verdade. Basta lembrar que um dos maiores hits do Generation X tratava com desdém justamente essa geração mod: “Try to forget your generation (…) your generation don’t mean a thing to me (…) there ain’t no time for substitutes / there ain’t no time for idle threats”, eles cantam em Your Generation, numa alusão direta à My Generation e Substitute, hinos do The Who. O Exploited foi mais direto e visceral, ao cantar “Fuck a Mod”, alguns anos mais tarde, liderando o segundo levante punk. Mas o Jam era bem maior que o punk, tendo pulado logo esse estágio para um estágio pós-punk elaborado e elegante, que desembocava em canções de rara beleza e sensibilidade, como That’s Entertainment.
A alcunha (pós-punk) é envolta em mistérios e definições. Na Inglaterra, pos punk era uma contração de positive punk, rótulo que servia para definir o som de bandas como Siouxsie & The Banshees, por exemplo. Mas, como não raro essas bandas vinham do punk (ou se aproveitaram da onda) associou-se o estilo como algum tipo de som posterior a ele (ou seja, se não sabem tocar: é punk; se aprenderam um pouco: é pós-punk). Em outros países europeus, o estilo ficou conhecido como post-punk ou after punk, como podemos ver em alguns flyers da época. Não devemos esquecer-nos que, mesmo fazendo algum sentido, essa definição de posterior não é totalmente verdadeira. Se pegarmos trabalhos dos britânicos Wire, veremos que eles já traziam, em seu primeiro disco (Pink Flag), de 1977, sons pós-punk no estado puro. Ou seja, ao mesmo tempo em que continha verdadeiros hits do “punk 77” (como as clássicas 12 x U ou Mr. Suit, entre muitas outras), também apresentava ao mundo músicas que, anos mais tarde, definiriam o pós-punk (como Reuters ou a própria faixa-título, Pink Flag). O U.K. Sub’s, que tinha um músico de blues como vocalista (o folclórico Charlie Harper) tinha uma música meio cadenciada, chamada Warhead, que também traz características do pós-punk, principalmente pelo baixo marcando forte e pela guitarra esparsa.
Aqui em terras tupiniquins, houve uma associação com esse “posterior”, sendo conhecido como pós-punk (ganhando o acento gramatical da língua portuguesa). Não sem antes haver uma pequena polêmica: por conta das características próprias do estilo pós-punk, não podendo chamá-lo de punk, nem muito menos de gótico, optou-se por nomeá-lo com uma das características desse som: dark. Realmente, a predominância da obscuridade (tanto instrumental quanto temática) faz com que essa classificação não seja lá tão falsa, mas é pouco abrangente e limitada, por conta da riqueza do leque pós-punk. Dizer que Smiths ou Echo and The Bunnymen, ou ainda as brasileiras Muzak e Kafka, por exemplo, eram darks, não é de todo falso, mas passa longe de definir com propriedade o som que essas bandas apresentavam. Mais recentemente, optou-se por chamá-las de darkwave ou cold wave, que não passam de variações do (“apenas”) dark.
Mesmo advindo do punk, o pós-punk difere desse em vários aspectos, a começar pela temática lírica. Essa passa a ser reflexiva, ao invés de acusativa. Enquanto o punk grita contra o sistema e as mazelas de nossa sociedade, o pós-punk se retrai em seu mundo, não raro procurando em si mesmo os problemas por que passa (In my life / why do I give valuable time / to people who don’t care if I / live or dieHeaven Knows I’m Miserable Now, The Smiths). No começo de 1978, após apontar suas armas para a sociedade britânica, Johnny Rotten assume seu nome verdadeiro, John Lydon e funda o Public Image Ltd., captando o momento e questionando: You never listen to a word that I said / you only seen me for the clothes that I wear / or did the interest go so much deeper / it must have been the colour of my hair, na música que leva o nome da banda.
Não é difícil compreender essa mudança de foco, do “você” punk para o “eu” pós-punk. O punk, para protestar, precisa saber contra o que ou quem está lutando, precisa conhecer seu “inimigo”. Além disso, tem de, supostamente, oferecer alternativas para um mundo melhor (olhando pelas características do punk britânico, uma vez que o norte-americano vai mais na linha “festeira”). Isso fez com que muitos punks se tornassem verdadeiros ratos de biblioteca, indo atrás das idéias dos grandes pensadores da humanidade. Mesmo simpatizando primeiramente por escritores que só tinham em comum a aversão ao capitalismo (como Marx, Bakunin, Poudhon etc), foi um processo natural que a leitura abrisse a mente para a busca de mais conhecimento e de novas descobertas, o que fez com que despertasse o interesse para outras questões sobre nossa condição de existência. E descobrir outras questões e outras respostas foi o caminho natural.
Mas a explosão do punk não surtiu o efeito desejado. É lógico que o saldo foi positivo, pois praticamente tudo o que foi feito em matéria de música posteriormente tinha um pé no punk. Mas percebeu-se que, exatamente no campo musical, acabou havendo apenas uma troca de ícones, nada mais. Além do que, e mais grave, os alvos do tiroteio punk (os grandes nomes da música mundial) saíram intactos. Entre si (punks) começaram as primeiras brigas, ora por caminhos musicais diversos que começaram a ser trilhados (inaugurando o termo “traidor do movimento”), ora por idéias e ideais confusos, na maioria das vezes políticos.
Um desses ditos traidores foi o Damned. Dave Vanian, seu vocalista, era coveiro, e costumava se apresentar pintado como um Nosferatu, desde os primeiros shows da banda. Lançaram o primeiro single de uma banda punk britânica (New Rose, em outubro de 1976), e o primeiro LP veio logo depois (fevereiro de 1977 – outro clássico do punk, Damned Damned Damned). As composições eram todas do guitarrista, Brian James, que os deixou logo após o segundo disco. Com Vanian assumindo o comando da banda, esse lado “filme-B” ganhou corpo: lançam o single de Love Song ao final de 1978, iniciando a saga que os levou para o gótico, nos anos 80. Outra banda acusada de “traição” pelos punks foi o Clash. Também responsável por outro clássico do punk 77, o auto-intitulado álbum de estréia, eles resolveram focar suas canções em ritmos e estilos jamaicanos (dub, reggae, ska), caribenhos (como a salsa), em temas politizados baseados nas guerrilhas de países centro-americanos (como Nicarágua e El Salvador). Até que Mick Jones abandonasse a banda e o barco punk de vez, assumindo o Big Audio Dynamite.
Esse momento de indefinições, mais a visão de um mundo envolto em guerras e com medo de uma hecatombe nuclear, proporcionaram que a temática lírica do pós-punk juntasse o no future punk aos ares de apocalipse (The Day After, Síndrome da China, o acidente em Chernobyl etc.) que se respirava com a proximidade do fim-de-século (temor natural do ser humano em toda virada de século). Só pra constar, a guerra (e seus efeitos) é recorrente na temática lírica punk, sendo abordada de diversas formas: irônicamente (Holiday in CambodjaDead Kennedys), sarcasti-camente (Let’s Start a War, Said Maggie One Day – Exploited), de forma séria (Massacred MillionsThe Varukers), raivosa ( e mais um monte – Discharge) etc.
Esse aspecto sombrio, por vezes sorumbático e melancólico (ou seja, uma atmosfera totalmente dark) foi reforçado pela estrutura instrumental das músicas, principalmente pelo novo papel que coube ao baixo. Deixando de ser um instrumento de cordas que “dá notas” ao bumbo da bateria, ele se desvencilha dela e passa a ser, na maioria das vezes, o fio condutor da música. O baixista Jah Wobble, um ex-taxista jamaicano amigo de Lydon, que formou o PIL junto com o ex-Pistol, foi um dos responsáveis por isso. Seu instrumento soa destacado em relação aos outros, no primeiro disco da banda (Public Image), lançado no natal de 1978. Quase ao mesmo tempo, o Warsaw transforma-se em Joy Division, pois mudara de baterista e deixara os anos de punk para trás. Lança Unknown Pleasures (1979), o primeiro disco oficial. Nele, Peter Hook divide de igual para igual as cordas de seu baixo com as da guitarra de Bernard Summer. Tente imaginar, por exemplo, Day of the Lords sem aquela linha de baixo. Com freqüências graves, ajudava a dar o ar soturno que as letras pediam. Isso deu liberdade natural à bateria, que acabava optando por levadas também criativas, quase sempre (por motivos óbvios) caindo para o lado tribal. Double Dare (Bauhaus) é um bom exemplo disso; ela seria outra música sem aquela bateria. A batida se repete num riff hipnótico, ajudado pelo baixo distorcido, tocado em Mi e Fá (ou seja, apenas um vai e vem de tom e semitom), com uma guitarra que emite sons aleatórios e às vezes desconexos.
Com baixo e bateria no mesmo plano que os outros instrumentos, a guitarra opta por explorar mais os timbres que o barulho, puro e simples. Os acordes cheios e distorcidos do punk deram lugar a dedilhados leves, riffs simples, mas eficientes, e levadas que remetiam àquelas que se produzia com riqueza ímpar na psicodelia dos anos 60. Keith Levine, outro membro fundador do PIL e que fez parte da primeira formação do Clash, dava o tom e mostrava como deveria ser a guitarra no estilo pós-punk. Daniel Ash (Bauhaus) nos apresenta uma anti-música, emitindo sons, timbres, harmônicos e efeitos de pedal de guitarra, em músicas como a citada Double Dare, no experimentalismo de Paranoia Paranoia, e até mesmo em Bela Lugosi’s Dead (de 1979, considerada por muitos o marco zero do gótico). Outro grande expoente da guitarra, que cristalizou essa característica anos mais tarde, é Johnny Marr. À primeira vista tão simples que qualquer um faria, a riqueza do dedilhado nas músicas dos Smiths espanta, de tão diferentes que eram.
Os vocais ganham nova dimensão: antes gritados, desesperados, agora são mais graves, empostados, melodiosos, podendo até ser sussurrados. Nada impedindo, no entanto, que permanecessem no formato punk. O elo entre um e outro foi mantido, na maioria dos casos. A começar pelo próprio John Lydon: não há grande diferença entre seus vocais no Sex Pistols e no PIL. Interessante notar que nos Sex Pistols (ou seja, punk, onde deveria ser mais escrachado) Lydon trabalhava com mais melodias que no PIL (pós-punk), onde opta por vocais mais monocórdicos. Andi Sex Gang, vocalista do Sex Gang Children, banda que pulou o estágio punk, mas que representa bem essa passagem para o pós-punk, tinha uma flexão vocal que, muitas vezes, lembrava o timbre do próprio John Lydon. No Buzzcocks, por trás das camadas de guitarras distorcidas, Pete Shelley cantava as desesperanças e frustrações do amor adolescente de uma forma bem melodiosa, quase pop no sentido literal, mas que não deixava de ser punk.
Exposto dessa maneira, pode-se pensar: então, do punk para o pós-punk, mudou tudo! Não exatamente. Algumas características marcantes do punk continuaram intactas, como o espírito contestador, o niilismo, o primitivismo, o minimalismo, o hedonismo e, em menor grau, a iconoclastia.
O niilismo (aqui valendo como negação dos valores da geração precedente) não é tão forte quanto parece. Num primeiro instante, dá a impressão que o punk acabaria com tudo, que viria para derrubar toda estrutura da cultura ocidental, desde a música até a moda (In 1977 / I hope I go to heaven (…) No Elvis, Beatles or the Rolling Stones!1977, The Clash). Mas não foi bem isso o que aconteceu, como sabemos. Na mesma medida em que assustou, foi assimilado pelo sistema. Isso, de certa forma, desmoralizou o punk. Mas o pós-punk tem sua parcela niilista muito forte, começando pelo método de gravação, produção e mixagem, que privilegia todos os instrumentos democraticamente (o punk privilegia mais o barulho da guitarra, coisa que o hard rock setentista, em outra medida, já fazia). E também em aspectos visuais. Algumas bandas, a começar pelo Echo & The Bunnymen, dispunham o baterista na frente do palco, ou ao lado dos outros instrumentos (ficando os membros da banda na mesma disposição no palco). Antes deles, o T. Rex já fizera algo parecido, mas Marc Bolan ficava num degrau acima, mesmo que na parte de trás do palco.
O primitivismo consistia na redução ao máximo dos recursos necessários para se fazer música, num retorno ao básico do básico. Esses recursos podiam ser tanto tecnológicos (como instrumentos musicais, gravação e meio de distribuição) quanto em relação à música em si, incluindo a temática lírica. Assim, como muitos outros da época, a primeira fita do Warsaw, por exemplo, com cinco músicas, foi gravada em apenas um dia (18/07/1977). É importante lembrar que na época da primeira explosão punk, o mainstream era dominado por bandas de rock progressivo ou por bandas e artistas pop que utilizavam recursos como guitarras limpinhas, teclados na maioria das vezes angelicais, vocais doces e melosos, backing vocals precisos etc., em produções que demoravam meses para conhecer seu término. Isso tudo foi agravado com a moda de se juntar o rock à musica clássica, que teve seu auge em 1974, com Rick Wakeman e sua Journey to the Center of The Earth. Dessa forma, o show business estava dominado por (e reservado para) quem tinha muita grana e avançado conhecimento técnico e musical.
Os punks entram em cena deturpando e desmoralizando todo esse stablishment (tanto no mainstream quanto no underground). Para isso, baixo, guitarra e bateria ligados em amplificadores baratos, que traziam a tiracolo uma microfonia proposital, era só o que precisavam. E os vocais desesperados, gritados, nervosos, levam ao primitivismo temático, sem técnica, sem falsetes ou outros recursos, rimando “you” com “do” sem constrangimento. Mesmo em coisas mais calculadas, o improviso era a regra. Diz a lenda que Johnny Rotten usou a palavra anarchist em Anarchy in the U.K. somente para rimar com antichrist, que ele já tinha escrito e não queria mudar. Em outro canto da mesma Londres de Rotten, Mick Jones havia escrito uma música, chamada I’m So Bored With You. Ao mostra-la a Joe Strummer, esse logo lembrou o caráter punk revoltado da banda, e acrescentou um “S.A.”, fazendo nascer um dos clássicos do primeiro disco do Clash: I’m So Bored With The U.S.A.. E assim, sem rebuscamento algum, falavam a linguagem das ruas. É aí que justifica-se o culto a uma banda considerada por muitos como precursora do punk, do pós-punk e do gótico: o Velvet Underground.
Surgida em Nova York, no final dos anos sessenta, destacaram-se porque, enquanto a maioria das bandas começava a se sofisticar (em caminhos que levaram ao glam e ao progressivo), eles fizeram o inverso, vestindo preto em contraste ao colorido espalhafatoso dos hippies e usando com maestria ímpar o conceito minimal e primitivista na música. John Cale, baixista e violinista da banda, estudava música e aplicava esse conceito no som deles: Heroin, por exemplo, tem um violino tétrico de uma nota só, a música toda (nos anos 80, o power pop A Girl Like You, de Edwyn Collins, usava o mesmo conceito de uma nota só, sem soar cansativo). O guitarrista, vocalista e principal compositor, Lou Reed, falava de drogas, traficantes, marginais, travestis, prostitutas e coisas desse tipo. Seu vocal reto e limitadíssimo serviu de álibi para os vocalistas punks e pós-punks, anos mais tarde. A baterista Mo Tucker tocava de pé, em um kit de bateria de três ou quatro peças, recurso utilizado por bandas do revival rock’a’billy (como Stray Cats) e mesmo do pós-punk (como o Jesus & Mary Chain).
Quanto ao minimalismo, vale lembrar que não é invenção dos punks – eles apenas usaram com propriedade essa estética. Assim como John Cale já aplicava essa forma de expressão musical, outros músicos (maestros e compositores) anteriores a ele já estudavam esse conceito. Uma série intitulada “Composições 1960”, de La Monte Young, pode ser considerada a obra inaugural dessa escola, cuja premissa era de que uma música poderia resumir-se a uma ou duas notas, que poderiam ser repetidas à exaustão, com a intenção de hipnotizar o ouvinte. Nos anos 70, no outro extremo dos punks, Philip Glass também trabalhava em obras minimalistas, algumas reforçadas por imagens, como no filme/disco Koyaanisqatsi, de 1983, primeiro de uma trilogia sobre os problemas do mundo moderno. Interessante notar que, nesse trabalho, algumas músicas (minimalistas) são cânticos entoados por vozes masculinas, que se aproximam bastante da estética gótica da época. Não era de todo estranho, pois Glass já utilizara recursos do barroco em algumas de suas obras. Inclusive, já nos anos 90, ele prepara uma trilha para o filme Drácula (aquele mesmo, clássico de 1931, com Bela Lugosi), quando da digitalização do mesmo.
No punk, o minimalismo é facilmente detectável. Os acordes cheios, com o baixo marcando a tônica, não trazem problemas na identificação das duas ou três notas utilizadas. Mas isso não significa monotonia. É só escutar qualquer disco dos Ramones e perceber que mais notas só atrapalhariam, na realidade. Marky Ramone, que antes havia tocado no Dust (como Marc Bell) desaprendeu a tocar para poder entrar no Ramones, uma vez que na banda Dust ele simplesmente destruia a bateria! No pós-punk, esse minimalismo pode ser evidente (como em Transmission, do Joy Division, com suas duas notas marcadas pelo poderoso baixo) ou disfarçado (como nos floreados de baixo de The Cutter, que escondem as também duas notas da música). Mesmo partindo para os lados eletrônicos, ainda encontramos essa característica. Não só nas batidas da música industrial, sem problemas de identificação, mas também nas bandas mais acessíveis e (pretensamente) mais preocupadas com arranjos; no Ultravox, por exemplo: um de seus maiores clássicos, a belíssima Vienna, também é trabalhada em cima de duas notas.
Em geral, a estética minimalista pós-punk pede que haja momentos de “silêncio” entre os instrumentos, o que os torna facilmente destacáveis. Isso traz uma carga maior de tensão, por vezes reflexiva, para a música. O Kraftwerk, mestre nas experiências eletrônicas musicais, ainda nos anos 70, usou com maestria essas noções, incluindo esses momentos de “silêncio” (vide Hall of Mirrors, The Robots, Musique Non Stop etc.). Não deixa de ser uma identificação com o minimalismo, o que possibilitou que o Kraftwerk não só passasse incólume pelo corredor polonês do punk como servisse de força para que juntasse seus experimentos eletrônicos à fúria da distorção. Isso originou as bandas eletrônicas estilo Cabaret Voltaire ou até mesmo o Devo, que, no começo de carreira, apresentava músicas que se assemelhavam a um cruzamento de um Kratwerk mais pop com o caótico som dos Residents, outros mestres na arte de experimentação musical. Podemos considerar o Krafwerk o responsável direto pelos sons eletrônicos dos anos 80, desde o Human League, que, na ativa desde 1977, tinha em sua formação apenas dois sintetizadores e um vocalista.
O hedonismo vem logo após a opção pelo primitivismo e minimalismo. No punk, o hedonismo (busca pelo prazer como sentido de vida) pode ser interpretado pelo lema “live fast, die young”, levado ao pé da letra por alguns (como Darby Crash, do Germs, ou mesmo Sid Vicious) e transformado em música por outros (Circle Jerks). Considerar o prazer o fim da vida era uma das marcas do punk: pra que anos de conservatório musical se dá para conseguir algo até melhor no aqui e agora, nesse exato momento, e vivê-lo intensamente, já que “não há futuro”?
Os economistas têm uma variante para o hedonismo: procurar obter o máximo de lucro com o mínimo de esforço e de recursos possíveis. E é onde se apóia o pós-punk, quando se apropria de elementos do punk, refazendo-os e transformando-os em algo mais rico e de brilho próprio. Há várias músicas que ilustram perfeitamente esse hedonismo, mas podemos pegar como exemplo Disorder, do Joy Division. Começa com uma levada de bateria que é quase um riff, o que a faz reconhecível nos primeiros segundos (coisa quase que impensável no formato de música normal, até então). Entra um baixo marcante, também utilizando o recurso do riff, melódico, mas ao mesmo tempo minimalista, primitivo, sem alterações no decurso da música. A guitarra entra, porém não barulhenta, mas economicamente criativa e distorcida no ponto exato entre a melodia e a saturação. Por fim, entra o vocal, reto, limitado, que começa com os versos “estive procurando por um guia que viesse e me levasse pela mão”, terminando com a decepção de “tenho o espírito / mas perdi o sentimento”. Mórbido. A soma desses quatro fatores é indivisível: retire um e a música se perde.
Essa característica hedonista do pós-punk atinge também o aspecto visual. Tanto no punk quanto no pós-punk vale a premissa de que o visual de bandas e fãs deve ser o visual casual, das ruas. Mas, por suas características próprias, o punk carrega nas tintas (literalmente), deixando meio forçado esse visual que deveria ser o mais espontâneo possível. O pós-punk, não, ele literalmente não tem um visual específico. O Joy Division, em quatro anos de existência, só fez uma sessão de fotos da banda, e mesmo assim, com as roupas usadas no dia-a-dia, pelo proletariado britânico. Nada mais importava, além da música. No máximo, uma roupa escura, discreta, sem excessos. O visual punk, pelo contrário, primava pelo exagero: como uma tribo, seus adeptos deveriam ser reconhecidos à distância, no mundo todo. Esse visual combinava trajes maltrapilhos com roupas S&M, vendidas (não por acaso) na loja de roupas Sex, de Malcom McLaren e Vivienne Westwood. Esse exagero fazia parte do jogo: chocar por chocar, incluindo aí desde cabelos pontudos, despenteados e/ou coloridos, até adereços não usuais, como alfinetes, broches, lâminas e suásticas. Esse último detalhe provocou desentendimentos entre os punks. Sid Vicious causou problemas no próprio meio punk quando passeou num bairro judeu, em Paris, com uma camiseta estampada com uma suástica (aliás, da loja Sex). O Clash recusou-se a tocar com os Sex Pistols enquanto eles usassem esses adereços. E ainda começaram uma série de concertos contra o racismo.
Por fim, a iconoclastia (I am an antichrist… o primeiro verso do primeiro hit punk, Anarchy in the U.K., com os Sex Pistols), que acabou sendo meio esquecida, por também ter trazido certos dissabores, principalmente aos punks. Quando Johnny Rotten vestia uma camiseta rabiscada com um “I hate” sobre a serigrafia de Pink Floyd, ele tentava destruir um mito. Mas ele não imaginava que, anos mais tarde, eles mesmos, os Sex Pistols, virariam ícones, tanto quanto o Pink Floyd. Para o pós-punk, a iconoclastia seria utilizada no sentido mais literal, ou seja, religioso. Não direto, como os contemporâneos do black metal (que praticamente se apóiam única e exclusivamente nisso), mas de uma forma mais pessoal, no sentido de decepção ante as crenças e conceitos pré-estabelecidos, incluindo aí o próprio estado de espírito e religiosidade de cada ser humano (I still believe in God / but God no longer believes in me (…) heaven and hell / I know them well / but I haven’t yet made my choice”, em “Wasteland“, The Mission UKTill legends live and man made God again (…) as we move towards no end / we learn to die / red tears are shed on grey, Love Like Blood, Killing Joke).
Essas questões mais filosóficas seriam ampliadas e melhoradas pelos góticos. Por exemplo, o medo da morte – natural do ser humano, o único animal que têm consciência de que vai morrer um dia. Desde o punk, a morte é tema recorrente. Mas no punk ele vem mais na forma direta e universalizada (“O mundo vai acabar” é uma das frases mais utilizadas por punks daqui e de lá de fora). O medo da guerra nuclear, advinda de um conflito entre Estados Unidos e União Soviética e a aniquilação da raça humana como a conhecemos hoje era o medo imediato do primeiro e, mais ainda, do segundo levante punk. Basta dar uma rápida olhada nas capas de discos dessa época. No pós-punk, a temática é mais no sentido da desolação, que poderia ser provocada por uma possível guerra, podendo ser a mesma cantada pelos punks. Mas que poderia ser também por uma desolação interior, uma catástrofe na existência pessoal (Now my hurricanes / broke down this ocean rain, Ocean Rain, Echo and The Bunnymen; and I awake from dreams / to a scary world of screams (…) and I feel that I’m dying / I’m down on my kness / I want to go / I want to stay, Darklands, Jesus & Mary Chain). Assim, ilustrando, o punk se preocupava com a explosão da bomba nuclear; o pós-punk com os efeitos dela no dia seguinte; o gótico com o apocalipse, no fim de tudo, nos limites da alma. Dos três modos de ver a morte, o gótico se preocupa mais com o desconhecido, o intangível, o imprevisível, o enigmático. E esse fascínio pelo mistério do sobrenatural é seu grande mote.
Depois de tudo isso, podemos dizer que o gótico parte do pós punk, sendo assim um segundo estágio acima do punk (ou a partir dele). E que essa passagem também merece uma análise à parte, ou seja, como surgiu o gótico do pós-punk. Por isso, devemos ter em mente que não existe uma linha que delimita ou separa um do outro. E nem todas as bandas são exclusivamente desse ou daquele estilo. Ou, mais longe ainda, que as bandas em geral se limitem a esses três estilos. Como vimos no começo, muitas bandas ou artistas começaram punks, partindo daí para caminhos distintos. Isso foi necessário, para que o rock voltasse para as ruas, voltasse para o domínio popular, de uma forma democrática. Passado a bebedeira (o punk), veio a ressaca (pós-punk), que derivou em uma melhor visão sobre o mundo, começando pelo mundo musical. E do punk/pós-punk surgiu a new wave, por exemplo, que pode ser considerada um punk bonitinho, feito para a sociedade de consumo. Mas também tem as várias outras waves, com bandas como XMal Deutschland, de um refinamento fora do comum. Também as experiências eletrônicas, que podem ser tanto a house pop que ganhou as pistas e as paradas de sucesso do mundo (como a praticada pelo New Order nos anos 80), quanto a E.B.M. de bandas como Front 242 – ou ainda o industrial de gente como Ministry, Skinny Puppy ou Einsterzunde Neubauten. Mais recentemente, houve uma radicalização ainda maior nesse campo eletrônico, com bandas como Young Gods, ou com o advento do digital hardcore, em bandas como Atari Teenage Riot ou Rancid Hell Spawn. Há uma cena congelada no tempo, que tem bandas ainda hoje atuantes, mas que se concentra e mira nesse momento 79-82, principalmente nas bandas da célebre casa noturna Batcave: os chamados death rockers. Sem esquecer também dos punks ortodoxos, que migraram para um som mais violento, fazendo surgir o hardcore, como Agnostic Front, Dead Kennedys, Discharge etc., que nada têm que ver com o gótico, a não ser pelo ponto de partida (ou seja, o próprio punk). E há aqueles que nunca abandonaram o barco, como Stiff Little Fingers, U.K. Subs, GBH etc., que continuam fazendo o bom e velho punk, seja safra 77, seja safra 82, sendo quase um flash congelado desse momento único, especial e (por que não?) – mágico!
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